quarta-feira, 30 de março de 2011

Und Ich schweige meine Liebe...



    "Tentei encurtar as horas com relógios pequenos e alargá-las com relógios maiores. De nada me valeu. Ó minha angústia. Por que é que as coisas são tão reais?"

    "Eu amo e odeio tanto... O amor dói-me e o ódio fere-me. 
    Às vezes digo que sou a favor da guerra, da morte, da violência. E não me temo. Porque há essa horrível (de tão verdadeira) e enjoativa frase que dizemos: "a palavra é de prata e o silêncio é de oiro". Porque o amor será sempre do silêncio."
Daniel Faria, O Livro do Joaquim, Quasi Edições: V. Nova de Famalicão, 2007, p 70-1

Alles schmerzt mich so viel...



     "Até hoje vivi mais das possibilidades do que das certezas, das esperanças mais do que das decisões. E agora que decidir é irremediável e o tempo para mim se fez lugar de angústia mais que redenção, invejo Moisés que tendo vivido o tempo da promessa, morreu antes de chegar à terra prometida."

    "Às vezes sou a vontade desesperada de construir a minha vida sobre o ódio e o egoísmo.
    Sei bem, embora, que tudo em mim é demasiado vulnerável para que, assim vivida, a minha vida seja mais do que derrota sem qualquer mérito, humilhação vil, indigna de indulgência, indiferença ou indignação.
    Sei ainda que o ódio é o que de mais falso existe do verdadeiro."

Daniel Faria, O Livro do Joaquim, Quasi Edições: V. Nova de Famalicão, 2007, pp. 74-5

segunda-feira, 21 de março de 2011

Und deshalb bin ich so traurig!



"Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz. (...)
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos (...)
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada."

Vinicius de Moraes, Antologia Poética, Lisboa: Publicações D. Quixote, 2001, pp. 22-23 

sexta-feira, 18 de março de 2011

Ich friere...



"Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimentos, basta ter coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. Tem que gostar de poesia, de madrugada, de pássaro, de sol, da lua, do canto, dos ventos e das canções da brisa. Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não ter esse amor.. Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo. Deve guardar segredo sem se sacrificar.

Não é preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível que seja de segunda mão. Pode já ter sido enganado, pois todos os amigos são enganados. Não é preciso que seja puro, nem que seja todo impuro, mas não deve ser vulgar. Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo que isso deixa. Tem que ter ressonâncias humanas, seu principal objetivo deve ser o de amigo. Deve sentir pena das pessoa tristes e compreender o imenso vazio dos solitários. Deve gostar de crianças e lastimar as que não puderam nascer.

Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova, quando chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações de infância. Precisa-se de um amigo para não se enlouquecer, para contar o que se viu de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade. Deve gostar de ruas desertas, de poças de água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim.

Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo. Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas. Que nos bata nos ombros sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se a consciência de que ainda se vive."

Vinicius de Moraes, Procura-se um amigo, in http://www.astormentas.com/vinicius.htm

sábado, 12 de março de 2011

Der endgültige Verlust 5


     "Chegaram por fim à Capela dos Milagres, onde estava enterrado o corpo de Santo Amador. No altar venerava-se a imagem da Virgem Negra, com o Menino ao colo.
      (...) A menina, a seu lado, era como um passarinho depenado. Chorava, com os olhos cravados na imagem da Virgem. Os seus lábios moviam-se numa súplica. Tentava mover os braços, mas nada indicava que o milagre se fosse tornar realidade. Deixou-se cair até tocar o solo com a fronte e assim esteve durante muito tempo, enquanto as lágrimas humedeciam a lousa como uma chuva mansa. (...)
      Passaram ali os três várias horas. Iam entrando mais peregrinos. E outros saíam, cabisbaixos. (...) A princesa estremecia e não afastava os olhos da imagem santa, que parecia observá-la impassível. Caiu a escuridão e ainda continuavam ali os três, em silêncio. E durante quase toda a noite esperaram o milagre.
      E o milagre não veio. Quando ainda não tinha amanhecido, desceram a Via Sacra em silêncio. O bobo carregava a menina como adormecida.  (...) Um infeliz, perdida toda a esperança, blasfemava num sussurro. A menina gemia agora de medo e desencanto."

Basilio Losada, A Peregrina, Lisboa: Editorial Teorema, 2001, pp. 101-2 (texto com supressões)

quarta-feira, 9 de março de 2011

Der endgültige Verlust 4


"Tenho aflição por tudo o que morre
Como tenho pavor por cada noite que cai.
Como fui esquecer o caminho para fora?

Infeliz que esqueci as sendas da caça.
Comerei erva? Sol? Comerei estepes e estepes
A arder?

Vou pôr-me à mesa e esperar.

Tenho aflição por toda a ausência não anunciada
Acendi a luz por toda a casa e electrifiquei a voz
Agora posso ampliar o clarão dos gritos.

Posso abrir os trilhos no fogo: sei o ritmo da mão exacta
Que fez o povo atravessar enxuto o interior da água.

Vou-me sentar à mesa. Vou deixar arrefecer a comida.
Fazer de conta que estou a esperar." 

Daniel Faria, Poesia, edição de Vera Vouga, 2ª ed., V. Nova de Famalicão: Quasi Edições, 2006, p. 40

terça-feira, 8 de março de 2011

Der endgültige Verlust 3



"E vieram dizer-nos que não havia jantar.
Como se não houvesse outras fomes
e outros alimentos.

Como se a cidade não nos servisse o seu pão
de nuvens.

Não, hoteleiro, nosso repasto é interior
e só pretendemos a mesa.
Comeríamos a mesa, se no-lo ordenassem as Escrituras.
Tudo se come, tudo se comunica,
tudo, no coração, é ceia."

Carlos Drummond de Andrade, Hotel Toffolo, in http://www.algumapoesia.com.br/drummond/drummond18.htm

segunda-feira, 7 de março de 2011

Der endgültige Verlust 2



"Ach, wer bringt die schönen Tage,
Jene Tage der ersten Liebe,
Ach, wer bringt nur eine Stunde
Jener holden Zeit zurück!

Einsam nähr' ich meine Wunde,
Und mit stets erneuter Klage
Traur' ich um's verlorne Glück.

Ach, wer bringt die schönen Tage,
Jene holde Zeit zurück!"

Johann Wolfgang von Goethe , Erster Verlust, in http://www.textlog.de/18370.html

domingo, 6 de março de 2011

Der endgültige Verlust 1



"Es wird der bleiche Tod mit seiner kalten Hand
Dir endlich mit der Zeit umb deine Brüste streichen.
Der liebliche Corall der Lippen wird verbleichen;
Der Schultern warmer Schnee wird werden kalter Sand.

Der Augen süsser Blitz, die Kräffte deiner Hand,
Für welchen solches fällt, die werden zeitlich weichen.
Das Haar, das itzund kan des Goldes Glantz erreichen
Tilgt endlich Tag und Jahr als ein gemeines Band.

Der wohlgesetzte Fuss, die lieblichen Gebärden,
Die werden theils zu Staub, theils nichts und nichtig werden,
Denn opfert keiner mehr der Gottheit deiner Pracht.

Diss und noch mehr als diss muss endlich untergehen,
Dein Hertze kan allein zu aller Zeit bestehen
Dieweil es die Natur aus Diamant gemacht."

Christian Hofmann von Hofmannswaldau, Vergänglichkeit der Schönheit, in http://www.gedichte.vu/?tod.html