domingo, 22 de maio de 2011

Was ich dir nicht sagen kann... 2



"Pensando, enredando sombras en la profunda soledad.
Tú también estás lejos, ah más lejos que nadie.
Pensando, soltando pájaros, desvaneciendo imágenes,
enterrando lámparas.

Campanario de brumas, qué lejos, allá arriba
Ahogando lamentos, moliendo esperanzas sombrías,
molinero taciturno,
se te viene de bruces la noche, lejos de la ciudad.

Tu presencia es ajena, extraña a mí como una cosa.
Pienso, camino largamente, mi vida antes de ti.
Mí vida antes de nadie, mi áspera vida.
El grito frente al mar, entre las piedras,
corriendo libre, loco, en el vaho del mar.
Desbocado, violento, estirado hacia el cielo.

(...)

Pensando, enterrando lámparas en la profunda soledad.

Quién eres tu, quién eres?"


Pablo Neruda, Vinte Poemas de Amor e Uma Canção Desesperada, Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2001, p. 64-66

Was ich dir nicht sagen kann... 1



"Siempre, siempre te alejas en las tardes
hacia donde el crepúsculo corre borrando estatuas."

 
Pablo Neruda, Vinte Poemas de Amor e Uma Canção Desesperada, Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2001, p. 38

domingo, 15 de maio de 2011

Als du noch da warst...



"O domingo era uma coisa pequena.
Uma coisa tão pequena
que cabia inteirinha nos teus olhos.
Nas tuas mãos
estavam os montes e os rios
e as nuvens.
Mas as rosas,
as rosas estavam na tua boca.

Hoje os montes e os rios
e as nuvens
não vêm nas tuas mãos.
(Se ao menos elas viessem
sem montes e sem nuvens
e sem rios ...)
O domingo está apenas nos meus olhos
e é grande.
Os montes estão distantes e ocultam
os rios e as nuvens
e as rosas."

Eugénio de Andrade, Primeiros Poemas, As Mãos e os Frutos, Os Amantes Sem Dinheiro, Porto: Fundação Eugénio de Andrade, 2000, p. 48



sábado, 14 de maio de 2011

Verzicht...




    "Desisto, e terei sido a pessoa humana - é só no pior de minha condição que esta é assumida como o meu destino. Existir exige de mim o grande sacrifício de não ter força, desisto, e eis que na mão fraca o mundo cabe. Desisto, e para a minha pobreza humana abre-se a única alegria que me é dado ter, a alegria humana. Sei disso, e estremeço - viver me deixa tão impressionada, viver me tira o sono.
      Chego à altura de poder cair, escolho, estremeço e desisto, e, finalmente, me votando à minha queda, despessoal, sem voz própria, finalmente sem mim - eis que tudo o que não tenho é que é meu. Desisto e quanto menos sou mais viva, quanto mais perco o meu nome mais me chamam, minha única missão secreta é a minha condição, desisto e quanto mais ignoro a senha mais cumpro o segredo, quanto menos sei mais a doçura do abismo é o meu destino."

Clarice Lispector, A Paixão Segundo G. H. , Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira,1986, 173

Traurig...



"Mas vai-se embora um dia a Primavera alada,
Aves d' emigração, voam as ilusões
E a dor soluça em nós, trágica e desgrenhada,
Igual às árvores batidas dos tufões.
E tudo em nós relembra a morta natureza
Amortalhada pela neve dos Janeiros:
As folhas caem como um pranto de devesa,
Não cantam aves nem há rosas nos canteiros;
O sol não veste d'oiro os escalvados montes,
Anda a névoa a forrar de crepe todo o céu,
E os gemidos do vento e os soluços das fontes
São como a grande voz dum sonho que morreu."

Rodrigo Solano, Fumo, ed. act., Penafiel: Câmara Municipal de Penafiel, 2010, p. 115


sexta-feira, 6 de maio de 2011

Ich habe geträumt...



"Ser a moça mais linda do povoado,
Pisar, sempre contente, o mesmo trilho,
Ver descer sobre o ninho aconchegado
A bênção do Senhor em cada filho.


Um vestido de chita bem lavado,
Cheirando a alfazema e a tomilho…
Com o luar matar a sede ao gado,
Dar às pombas o sol num grão de milho…


Ser pura como a água da cisterna,
Ter confiança numa vida eterna
Quando descer à “terra da verdade”…


Meu Deus, dai-me esta calma, esta pobreza!
Dou por elas meu trono de Princesa,
E todos os meus Reinos de Ansiedade."


Florbela Espanca, Sonetos, Madrid: SAEPA, 1997, p. 95

domingo, 1 de maio de 2011

Zum Muttertag...



"No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe

Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos.

Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais.

Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura.

Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos.

Mas tu esqueceste muita coisa;
esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!

Olha — queres ouvir-me? —
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;

ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;

ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal...


Mas — tu sabes — a noite é enorme,
e todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber,

Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas.

Boa noite. Eu vou com as aves."


Eugénio de Andrade, Primeiros Poemas, As Mãos e os Frutos, Os Amantes Sem Dinheiro, Porto: Fundação Eugénio de Andrade, 2000, p. 83