sábado, 24 de setembro de 2011

Jetzt hast du keine Zeit, aber...



"Quando eu morrer, eu sei, tu escreverás
Triste soneto à morte prematura;
Dirás que a vida cansa em amargura
E, pálido e frio, tu me cantarás.

Nas quadras, reflectido se lerá
De como, vã e breve, a vida expira
E como em terra funda, dura e fria,
A vida, má ou boa, acabará

A seguir, nos tercetos, tu dirás
Que a morte é mistério, tudo fugaz,
Verdadeira, talvez, a vida além.

Por fim porás a data, assinarás.
E, relido o soneto, ficarás
Contente por tê-lo escrito bem."


Alexander Search, "Ao Meu Maior Amigo", in http://www.citador.pt

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Wie die kranke Rose



"Ach Rose, du krankst -
der verborgene Wurm,
der auszieht des Nachts
im Geheul des Sturms,


hat entdeckt dein Bett,
die Knospe rot:
was er Dunkles dir tut,
bringt dir Leid und Tod."

William Blake, Die kranke Rose, in http://gedichte.xbib.de, Übersetzung aus dem Englischen:
by Bertram Kottmann


sábado, 17 de setembro de 2011

So einsam fühl ich mich auch...



    "É tempo de terminar. Tenho um longo caminho para casa. Estive a escrever, durante quatro horas, agora quero ordenar as folhas e ir para casa. (...) Uma pessoa não devia escrever... Está-se tão rapidamente disposto a esquecer coisas que se viveu e a negar sentimentos. Penso frequentemente que não sinto nada e mais tarde penso que tudo aquilo não foi importante. (...) Tal como hoje, havia silêncio em mim, de modo que posso ouvir o vento lá fora. Serei cobarde ou não sou suficientemente diligente para me transportar de volta ao passado? Na recordação, os sentimentos bons também doem e é melhor não se fazer caso deles. Mas quando escrevo, tudo regressa espontaneamente, nem sequer me apercebo e, de repente, estou no meio de tudo, agitado e perturbado.
    Tenho que me tornar a dizer sempre e repetidamente que estou sozinho. (...)
    E de repente fico com calor e o meu coração bate e penso que já estive aqui uma vez."

Annemarie Schwarzenbach, Novela Lírica, Granito Editores e Livreiros: Porto, 2002, pp. 91-2.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Wann?



"Quando é que passará esta noite interna, o universo,
E eu, a minha alma, terei o meu dia?
Quando é que despertarei de estar acordado?
Não sei. O sol brilha alto,
Impossível de fitar.
As estrelas pestanejam frio,
Impossíveis de contar.
O coração pulsa alheio,
Impossível de escutar.
Quando é que passará este drama sem teatro,
Ou este teatro sem drama,
E recolherei a casa?
Onde? Como? Quando?"


Obra Poética de Fernando Pessoa, Poemas de Álvaro de Campos, Lisboa: Publicações Europa-América, s. d., p. 229

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Meine zerschlagene Hoffnungen




"Não sei. Falta-me um sentido, um tacto
Para a vida, para o amor, para a glória...
Para que serve qualquer história,
Ou qualquer facto?

Estou só, só como ninguém ainda esteve,
Oco dentro de mim, sem depois nem antes.
Parece que passam sem ver-me os instantes,
Mas passam sem que o seu passo seja leve.

Começo a ler, mas cansa-me o que inda não li.
Quero pensar, mas dói-me o que irei concluir.
O sonho pesa-me antes de o ter. Sentir
É tudo uma coisa como qualquer coisa que já vi.

Não ser nada, ser uma figura de romance,
Sem vida, sem morte material, uma ideia,
Qualquer coisa que nada tornasse útil ou feia,
Uma sombra num chão irreal, um sonho num transe."


Obra Poética de Fernando Pessoa, Poemas de Álvaro de Campos, Lisboa: Publicações Europa-América, s. d., p. 99

sábado, 10 de setembro de 2011

Ich werde langsam traurig...



"Os caminhos são longas pegadas indeléveis: leitos rasgados pelo turbilhão das horas viandantes. As horas passam como nódoas de fumo ao vento; mas o seu rasto não se apaga. As horas pulverizam o saibro e os penedos - e uma faixa branca morde a superfície verde das paisagens... É uma linha traçada pela Dor..."

Teixeira de Pascoaes, O Bailado, Colecção "Obras Completas de Teixeira de Pascoaes", organização de Jacinto do Prado Coelho, volume VIII, Livraria Bertrand: Amadora, 1973, p. 132

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Es gibt Augen...



"há olhos que não vêem o corpo no seu auge, mas a longa cicatriz; há olhos que não vêem o texto, mas a palavra, uma só, que cega todas as outras; há olhos que não vêem Deus, mas o seu teatro, os sinais da sua passagem ou da sua ausência; há olhos que constroem os sinais da passagem de um deus para conseguirem parar. A essa paragem chama-se desmesura. Há este olhar que aflora as coisas, as faz crescer até ao insuportável, e lhes dá a dignidade do rudimento; que abre os lábios a uma só palavra e entra nos seus meandros para a esquecer; que torna cada coisa um vestígio e se apaga ao ir de uma coisa a outra; e neste percurso expõe a mortalidade (...)"

Rui Nunes, O choro é um lugar incerto,Relógio d'Água:Lisboa, 2005, p. 31

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Der Wind hat mir ein Lied erzählt 1



     "Um dia, num tempo já perdido da memória, o vento não suportou mais a solidão quando corria pelos ares a olhar para o mundo lá em baixo. Estava cansado de fazer andar as nuvens e espanar o pó das árvores sem ter companhia.
     Olhava para todos os seres que viviam no chão e ficava com vontade de ter quem pudesse acompanhá-lo; alguém que não tivesse medo das alturas e que fosse com ele céu acima.
     Ele via as criaturas que se rodeavam umas às outras, a correr pelos campos ou a mergulhar nas águas, tão contentes e tão ágeis.
     O vento pensava que o céu também era um campo por onde se podia correr.
     A solidão leva a uma tristeza muito grande, aprendera o vento. Era preciso ter amigos, porque ninguém fica completo assim abandonado.
     Os amigos, pensava com muita razão, nunca são perfeitos, mas a realidade é feita de aceitarmos os outros como eles são para que também nos aceitem como somos."

valter hugo mãe, A Verdadeira História dos Pássaros, QuidNovi:Lisboa, 2009