segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Umsonst




"Não te chamo pra te acusar, oh não (...)
Não... é por saudade que te chamo (...)"

Aleksandr Púchkin, "O Cavaleiro de Bronze e outros poemas", Lisboa: Assírio & Alvim, 1999, p. 124-125

domingo, 28 de outubro de 2012

Hoffentlich

 
"Deus sabe o que faz: acho que está certo o estado de graça não nos ser dado frequentemente. Se fosse, talvez passássemos definitivamente para o outro lado da vida, que esse outro lado também era real mas ninguém nos entenderia jamais: perderíamos a linguagem em comum (...)"
 
 
Clarce Lispector, citada em "Clarice Lispector Uma Vida, de Benjamin Moser, Porto: Civilização Editora, 2009, p. 294

sábado, 27 de outubro de 2012

Ich bin müde...




"Ich bin müde..

Mit den Bäumen führte ich Gespräche.

Mit den Schafen litt ich die Dürre.

Mit den Vögeln sang ich in Wäldern.

Ich schaute hinauf zur Sonne.

Ich sah das Meer.

Ich arbeitete mit dem Töpfer.

Ich schluckte den Staub auf der Landstraße.

Ich sah die Blüten der Melancholie auf dem Feld meines Vaters.

Ich sah den Tod in den Augen meines Freundes. 

Ich streckte die Hand aus nach den Seelen der Ertrunkenen. 

Ich bin müde..."

Thomas Bernard, Na Terra e no Inferno, Lisboa: Assírio & Alvim, 2000, p. 180

domingo, 21 de outubro de 2012

sábado, 20 de outubro de 2012

Schatten



"São feitas de palavras as palavras
e da melancolia da
ausência da prosa e da ausência da poesia.

É o que falta que fala
do lugar do exílio
do sentido e da falta de sentido.

Tudo o que te disser
tudo o que escrever
sou eu a perder-te,

cada palavra entre
o que em mim é corpo
e é nela sopro."


Manuel António Pina, "Nenhuma Palavra e Nenhuma Lembrança", Lisboa: Assírio & Alvim, 1999, p. 50

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Trotzdem...




"(...) uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora de minha própria vida. Foi apesar de que parei na rua e fiquei olhando para você enquanto você esperava um táxi. E desde logo desejando você, esse teu corpo que nem sequer é bonito, mas é o corpo que eu quero. Mas quero (...) com a alma também. Por isso, não faz mal que você não venha, esperarei quanto tempo for preciso."
 
Clarice Lispector, Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres", Lisboa: Relógio D' Água, 1999, p. 22

domingo, 14 de outubro de 2012

Sonntags




numa tarde de domingo,
num parque qualquer de uma tarde de domingo,
deito-me na relva com o corpo enrolado
como se fosse uma colher metida no guarda-
napo. A tarde limpa os beiços com esse
guardanapo de flores, que é o meu vestido
de domingo, e deixa-me nua sob o sol já frio
do outono de uma cidade que pode ser
Munique, Londres, Paris, ou outra qualquer,
como Veneza que não conheço.
As árvores olham para outro sítio,
com os pássaros distraídos com o sol
que está naquela tarde por engano. E eu,
com os dedos presos na relva húmida, vejo
o meu vestido voar, como um guardanapo,
por entre as nuvens brancas de uma tarde
de outono.

(Leituras românticas de "Tempo Livre" de Nuno Júdice)


sábado, 13 de outubro de 2012

Deine Worte... Meine Antwort

 


"Tenho de. O pequeno intervalo entre a minha disponibilidade e a pequena tarefa a realizar. É o meu futuro. Reduzido minúsculo. Não olhes mais longe. Agora o teu futuro é o pequeno passo que dês para fechar as janelas, para abrir as lojas. Agora a tua vida é o instante em que vives. Nada mais, nada mais, mas não te lamentes."
 
Vergílio Ferreira, para sempre, Lisboa: Bertrand Editora, 1984 , p. 159
 
 
 
"O amor é paciente e prestável. Não é invejoso. Não se envaidece nem é orgulhoso. O amor não tem maus modos nem é egoísta. Não se irrita nem pensa mal. O amor não se alegra com uma injustiça causada a alguém, mas alegra-se com a verdade. O amor suporta tudo, acredita sempre, espera smpre e sofre com paciência. O amor é eterno."
 
Primeira Carta aos Coríntios, 13

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Blindheit

 
 
 
"Ao princípio não se sente
O amor - a humidade amanhecendo
O coração ressequido"

Daniel Faria, "Do livro primeiro da noite escura, de São João da Cruz 3", in Poesia, Lisboa: Assírio & Alvim, 2012, p. 221.

sábado, 6 de outubro de 2012

Danken


"Enfim, depois de tanto erro passado
Tantas retaliações, tanto perigo
Eis que ressurge noutro o velho amigo
Nunca perdido, sempre reencontrado.

É bom sentá-lo novamente ao lado
Com olhos que contêm o olhar antigo
Sempre comigo um pouco atribulado
E como sempre singular comigo.

Um bicho igual a mim, simples e humano
Sabendo se mover e comover
E a disfarçar com o meu próprio engano.

O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma multiplica..."


Vinicius de Moraes, Soneto do Amigo, in http://www.viniciusdemoraes.com.br/site/

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Abwarten 1

 
 
 
"A porta mora à espera
De perfil se ensombra
E descansa

O degrau é paciência...
O umbral anúncio
O silêncio é o lugar
Onde baterão as mãos"
 
 
Daniel Faria, "Explicação das casas", in Poesia, Lisboa: Assírio & Alvim, 2012, p. 55

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Tag der Musik





"Pobre velha música!
Não sei por que agrado,
Enche-se de lágrimas
Meu olhar parado.

Recordo outro ouvir-te,
Não sei se te ouvi
Nessa minha infância
Que me lembra em ti.

Com que ânsia tão raiva
Quero aquele outrora!
E eu era feliz? Não sei:
Fui-o outrora agora."


Fernando Pessoa - Poemas Ecolhidos, Selecção e apresentação de Jorge Fazenda Lourenço, Biblioteca Ulisseia, 1985, p. 132