quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Unsere wehmütigen Engel



"não me cheguei ao muro, nem ao portão, não atravessei sequer a exígua estrada que separa o cemitério do lar, fiquei do outro lado a ver os mármores e os terríveis vultos religiosos, com aspecto de mártir nada apaziguador, e fiquei a ver as flores e fiquei a ver o modo como iam secando decadentes e esperavam por serem substituídas."
 
valter hugo mãe, a máquina de fazer espanhóis , Editora Objectiva, 2013, pp. 85-86

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Die Weise von Liebe und Tod

 

"fica-se muito zangado como pessoa. não se criem dúvidas acerca disso. fica-se zangado e deseja-se aos outros pouco bem, e o mal que lhes pode acontecer é-nos indiferente ou, mais sinceramente, até nos reconforta, isso sim, como um abraço de embalo, para que não se ponham por aí a arder como o sol e, sobretudo, não nos falem com uma alegriazinha ingénua, de tempo contado, e nos façam perceber o quanto éramos também ingénuos e nunca nos preparáramos para a derrocada de todas as coisas. nunca nos preparamos para a realidade. passamos a ser cidadãos terrivelmente antipáticos, mesmo que façamos uma gestão inteligente desse desprezo que alimentamos crescendo. e só não nos tornamos perigosos porque envelhecer é tornamo-nos vulneráveis e nada valentes, pelo que enlouquecemos um bocado e somos só como feras muito grandes sem ossos, metidas dentro de sacos de pele imprestáveis que não servem para nos impor verticalidade nem nas pequenas batalhas. como faria falta ferrarmos toda a gente e vingarmo-nos do mundo por manter as primaveras e a subitamente estúpida variedade das espécies e as manifestações do mar e a expectativa do calor e a extensão dos campos e das flores e das arvorezinhas cheias de passarinhos cantantes aos quais devíamos torcer o pescoço para nunca mais interferirem com as nossas feridas profundas."
 
valter hugo mãe, a máquina de fazer espanhóis , Editora Objectiva, 2013, pp. 28-29

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Wenn Tränen leise sterben...




"é uma mulher muito forte. como supera as coisas. trabalho, quando tiver vontade de chorar faço de conta que as feridas que tenho nas mãos se abriram e me queimam. é mais fácil admitir as dores do corpo que as da cabeça ou do coração. pois a mim muito me surpreende quando diz que ele não a amava, porque as mulheres não se deixam levar muito tempo por um homem que não as quer. pense lá melhor, eu sou uma mulher-a-dias, não tenho cultura para lhe ensinar coisas tão importantes, pense duas vezes se quer que lhe responda."
 
valter hugo mãe, o apocalipse dos trabalhadores , Editora Objectiva, 2013, pp. 115
 
 

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Nur noch ein paar Tage...



"(...) já se sabia que aquelas palavras não serviam para conforto nenhum, caíam em saco roto apenas a moerem os ouvidos. sentaram-se nas traseiras do prédio, como sempre, calaram-se brevemente a olhar o silêncio que faziam as cordas da roupa vazias, ficavam a balouçar pouco, atravessadas no ar com algum sem sentido, iguais a riscos suspensos, coisas para atrapalhar a passagem ou fazer as pessoas sentirem-se presas."

valter hugo mãe, o apocalipse dos trabalhadores , Editora Objectiva, 2013, pp. 76-7

sábado, 17 de agosto de 2013

Ein schrecklicher Monat


 
 

"ajuda-me, estou no fundo de um poço e só muito de vez em quando posso vir cá acima"
 
 
valter hugo mãe, o nosso reino , Editora Objectiva, 2012, p. 140 

domingo, 11 de agosto de 2013

Liebe ist... Einsamkeit




"Não podendo falar para toda a terra
 direi um segredo a um só ouvido"


Luiza Neto Jorge, Poesia , Lisboa: Assírio & Alvim, 2012, p. 286