quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Am letzten Tag des Jahres



"acabou o tempo de lembrar
 choro no dia seguinte 
 as coisas que devia chorar hoje"

Ondjaki, Os transparentes, Alfragide: Caminho, 2012, p.9

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Lösch mir die Augen aus!





"Lösch mir die Augen aus: ich kann dich sehn
wirf mir die Ohren zu: ich kann dich hören,
und ohne Füsse kann ich zu dir gehen,
und ohne Mund noch kann ich dich beschwören.
Brich mir die Arme ab, ich fasse dich
mit meinem Herzen wie mit einer Hand,
halt mir das Herz zu, und mein Hirn wird schlagen,
und wirfst du in mein Hirn den Brand,
so werd ich dich auf meinem Blute tragen."


Rainer Maria Rilke, O Livro das Horas, Lisboa: Assírio & Alvim, 2008, s. 196

Liebe



"Construo o pensamento aos pedaços: cada
ideia que ponho em cima da mesa, é uma parte do
que penso; e ao ver como cada fragmento se
torna um todo, volto a parti-lo, para evitar
conclusões."

                                                                                                                                    Nuno Júdice, Filosofia  in Pedro Lembrando Inês, Lisboa: Publicações D. Quixote, 2001, p. 38

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Gelassenheit



  "o intenso silêncio
   vinha de longe, mais longe que as fronteiras da cidade. um silêncio esquisito, manto que convidava a mais silêncio."

 Ondjaki, Os transparentes, Alfragide: Caminho, 2012, 205

domingo, 27 de dezembro de 2015

Wenn die Sonne untergeht..






"nada resta desse tempo
quieto de dias plácidos
e noites longas
flechas de veneno
moram no coração dos vivos
acabou o tempo de lembrar
choro no dia seguinte
as coisas que devia chorar hoje"

Paulo Tavares, como veias finas na terra, citado por Ondjaki, Os transparentes, Alfragide: Caminho, 2012, 427

sábado, 26 de dezembro de 2015

Ist es schon vorbei?



"Recusava-me a acordar. Queria dormir até ao fim da noite e, já agora, até que terminasse o fim de semana. Passar da noite de sexta-feira para a manhã de segunda-feira, sem respirar, sem sonhar, sem pensar, de uma assentada, numa só luta."

   Valérie Tong Cuong, O Atelier dos Milagres, Barcarena: Marcador Editora. 2015, p. 9

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Frohe Weihnachten



"Somos folhas breves onde dormem
aves de sombra e solidão.
Somos só folhas e o seu rumor.
Inseguros, incapazes de ser flor,
até a brisa nos perturba e faz tremer.
Por isso a cada gesto que fazemos
cada ave se transforma noutro ser."

Eugénio de Andrade


domingo, 20 de dezembro de 2015

So ist es!



"Apercebi-me da enorme solidão que me atormentava, sentia a sua presença como se fosse um estranho que se tivesse sentado ao meu lado e tivesse encostado a cabeça ao meu ombro. A solidão deve ser a única emoção que não conseguimos partilhar, se o fizermos ela desaparece."

                                                                                                                                                                      Afonso Cruz, Flores, Lisboa: Companhia das Letras. 2015, p. 186

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Wohin?




"À noite, deito-me como uma semente na almofada húmida do coração. Fico aninhado com esperança de crescer esplendorosamente por dentro do amor. No verdadeiro amor tudo é para sempre vivo. E sei que, como as pedras, vivo da sede. Quero sempre inventar a vida."

Valter Hugo Mãe, "As mais belas coisas do mundo" in   Contos de cães e maus lobos, Porto: Porto Editora , 2015, p. 128

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Zum Gedenken an einen Freund (Für A. S.)




"Há um limite para toda esta desolação,
Para estas falésias desfiguradas e mutiladas, 
Para estas eminências arruinadas de muralhas minadas pelo mar que deslizam
   Para o mar com todos os seus taludes de flores batidas pelo vento,
Mas felizes por viver, antes que a esperança se aquiete
   Sob o tumulto das sombrias e densas ondas e horas?"

A. C. Swinburne, Poemas, Relógio D' Água, 2005, p.  165

domingo, 6 de dezembro de 2015

Vierte Stufe




"Ouvis? Ou alguma amável loucura 
comigo brinca? Parece-me que já te ouço,
que já passeio por entre os pios bosques,
que amenas águas e brisas visitam."

                                                                                                                                                                                                                Horácio, Odes, Lisboa: Livros Cotovia. 2008, p.188

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Vorabend 4




"O mundo não acabou. Esperava que Deus tivesse intervindo, tal como havia feito com Isaac. Quando Abraão estava prestes a sacrificá-lo, baixou a sua mão e impediu que Abraão matasse o filho. Nós somos os seus filhos, estamos à Sua espera. Não aconteceu, claro. Mas também não aconteceu o que o senhor Ulme desejaria, o que todos desejaríamos - que as pessoas tivessem vergonha da sua humanidade e, ao ver o golem, dissessem: Mudaremos."


                                                                                                                                                                                             Afonso Cruz, "Flores", Lisboa: Companhia das Letras , 2015, p. 245

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Hoffnung und Kraft für E. T.



"Percebi que para dentro de nós há um longo caminho e muita distância. Não somos nada feitos do mais imediato que se vê à superfície. Somos feitos daquilo que chega à alma e a alma tem um tamanho muito diferente do corpo.
Percebi que ver verdadeiramente uma pessoa obriga a um esforço como o de estarmos sentados nos nossos bancos a tomar conta dos montes."


  Valter Hugo Mãe, "O rosto" in   Contos de cães e maus lobos, Porto: Porto Editora , 2015, p. 85-6

sábado, 21 de novembro de 2015

Am nächsten Tag



"Com o tempo, depois das flores de papel, depois de nadar no riacho, depois de aprender a fazer compota para um lanche no jardim, depois de um primeiro beijo, eu acreditei que todas as coisas que imaginara até então se alegravam por mim. Porque nenhuma tristeza define obrigatoriamente o que podemos fazer no dia seguinte. No dia seguinte, ainda que guardemos a memória de cada dificuldade, podemos sempre optar por regressar à busca das ideias felizes.
    Eu comecei pelos poemas de amor. Foi o melhor que me poderia acontecer."

                                                                                                                      Valter Hugo Mãe, "Querido Monstro" in   Contos de cães e maus lobos, Porto: Porto Editora , 2015, p. 52

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Schwächen



"- É muito fácil destruir. Uma pessoa parte um raminho de uma árvore com apenas dois dedos, mas não consegue voltar a colá-lo nem contratando a NASA."

Afonso Cruz, Flores, Lisboa: Companhia das Letras. 2015, p. 153

domingo, 15 de novembro de 2015

Dritte Stufe



"Tu não perguntes (é-nos proibido pelos deuses saber) que fim a mim, a ti,
os deuses deram, Leucónoe, nem ensaies cálculos babilónicos.
Como é melhor suportar o que quer que o futuro reserve,
quer Júpiter muitos invernos nos tenha concedido, quer um último,

este que agora o tirreno mar quebranta ante os rochedos que se lhe opõem.
Sê sensata, decanta o vinho, e faz de uma longa esperança 
um breve momento. Enquanto falamos, já invejoso terá fugido o tempo:
colhe cada dia, confiando o menos possível no amanhã."

                                                                                                                                                                                                                  Horácio, Odes, Lisboa: Livros Cotovia. 2008, p. 69

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Vorabend 3




"Lá longe, distante,
canta o pôr-do-sol rosa e dourado
da Misericórdia Divina."


                                                                                    Richard Zimler, A Voz do Amor. 72 Haiku Cabalísticos, Braga: AL - Publicações. 2015, p. 22

domingo, 8 de novembro de 2015

Freundschaft (Für E. und J.)



"Quando encontramos um amigo, mesmo depois de muitos anos, é como se o tivéssemos deixado um momento antes. Retomamos a conversa como se fosse um diálogo interrompido. E no entanto não é um diálogo interrompido, não é a continuação daquela conversa. O assunto é diferente. Nós mudamos, os nossos problemas mudaram. Não obstante, temos a impressão de continuar aquilo que estávamos a fazer. Como se não tivesse havido intervalo, como se o tempo não tivesse passado. É um fenómeno desconcertante."

Francesco Alberoni, "A Amizade", Venda Nova: Bertrand Editora, 1996, p. 29 

sábado, 7 de novembro de 2015

Zum Gedenken an einen guten Freund (Für C. S. F.)




"O pardalzinho nasceu 
Livre. Quebraram-lhe a asa.
Sacha lhe deu uma casa,
Água, comida e carinhos.
Foram cuidados em vão:
A casa era uma prisão,
O pardalzinho morreu.
O corpo Sacha enterrou
No jardim; a alma, essa voou
Para o céu dos passarinhos!"

                                          Manuel Bandeira 

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

So einfach...



"Sabe, ontem acordei colorida. Assim porque vi uma porção de coisas sempre vistas e nunca vistas, amei o movimento a vida, sabe como é, um dia que a gente tem olhos para ver. E foi tão bonito que te dei o meu dia. O presente é meio mixo para gente linda-tão-linda que tu me deste (vou conversar com ela quando estiver sozinha) mas foi tão bonito e grande e claro. Hoje estou a mesma chata de sempre, que não sabe telefonar (...)"

                                                                                                        Clarice Lispector, "O Grito", in A Descoberta do Mundo - Crónicas, Lisboa: Relógio d' Água, 2013, p.  107


quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Was wäre wenn...




"Et je suis comme une île en plein océan
On dirait que mon coeur est trop grand
Rien à lui dire, il sait bien que j'ai tout à donner"

Marnay, "D'amour ou d'amitié, 2005

sábado, 17 de outubro de 2015

Einfach nichts sagen...






"Porque tudo nasce ali, na vez da sua voz. Contar uma história é deitar sombras no lume. Tudo o que a palavra revela é, nesse mesmo instante, consumido pelo silêncio. Só quem reza, em total entrega da alma, sabe desse acender e tombar da palavra nos abismos."


                                 Mia Couto, A confissão da leoa, Alfragide: Editorial Caminho, 2012, p.99

sábado, 10 de outubro de 2015

Für einen Freund, der Hoffnung braucht (Für A. S.)

     

             "Um horizonte, — a saudade 
          Do que não há de voltar; 
          Outro horizonte, — a esperança 
          Dos tempos que hão de chegar; 
          No presente, — sempre escuro,— 
          Vive a alma ambiciosa 
          Na ilusão voluptuosa 
          Do passado e do futuro. 

          Os doces brincos da infância 
          Sob as asas maternais, 
          O vôo das andorinhas, 
          A onda viva e os rosais; 
          O gozo do amor, sonhado 
          Num olhar profundo e ardente, 
          Tal é na hora presente 
          O horizonte do passado. 

          Ou ambição de grandeza 
          Que no espírito calou, 
          Desejo de amor sincero 
          Que o coração não gozou; 
          Ou um viver calmo e puro 
          À alma convalescente, 
          Tal é na hora presente 
          O horizonte do futuro. 

          No breve correr dos dias 
          Sob o azul do céu, — tais são 
          Limites no mar da vida: 
          Saudade ou aspiração; 
          Ao nosso espírito ardente, 
          Na avidez do bem sonhado, 
          Nunca o presente é passado, 
          Nunca o futuro é presente. 

          Que cismas, homem? – Perdido 
          No mar das recordações, 
          Escuto um eco sentido 
          Das passadas ilusões. 
          Que buscas, homem? – Procuro, 
          Através da imensidade, 
          Ler a doce realidade 
          Das ilusões do futuro. 
          
          Dois horizontes fecham nossa vida."

Machado de Assis, "Os dois horizontes", in Crisálidas (http://www.citador.pt/)

domingo, 4 de outubro de 2015

Zweite Stufe



"Tacteia o teu percurso através
 do lado sombrio do nada
 até encontrares o teu caminho."


Richard Zimler, A voz do Amor. 27 Haiku Cabalísticos. Braga: AL Publicações. 2015, p. 63

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Vorabend 2



"Só há um modo de escapar de um lugar: é sairmos de nós. Só há um modo de sairmos de nós: é amarmos alguém.

Excerto roubado aos cadernos do escritor"

  Mia Couto, A confissão da leoa, Alfragide: Editorial Caminho, 2012, p.31

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Umsonst



"Por ti falo. E ninguém sabe. Mas eu digo
meu irmão    minha amêndoa    meu amigo
meu tropel de ternura    minha casa
meu jardim de carência    minha asa.

Por ti morro e ninguém pensa. Mas eu sigo
um caminho de nardos empestados
uma intensa e terrífica ternura
rodeado de cardos por muitíssimos lados.

Meu perfume de tudo    minha essência
meu lume    minha lava    meu labéu
como é possível não chegar ao cume
de tão lavado céu?"

Ary dos Santos, Obra Poética, Lisboa: Edições Avante, 1995, p. 276

terça-feira, 29 de setembro de 2015

Verzicht



"Podia ter sido assim comigo. Não foi. Não houve nem amor, nem homem, nem alma. O que sucedeu é que , com o tempo, deixei de ter esperas. E quem deixa de ter esperas é porque já deixou de viver. E é por isso que fujo: tenho medo de ser devorada. Não pela ansiedade que mora dentro de mim. Devorada pelo vazio de não amar. Devorada pelo desejo de ser amada."

                                Mia Couto, A confissão da leoa, Alfragide: Editorial Caminho, 2012, p. 61

sábado, 26 de setembro de 2015

Verstummt




"Mas o silêncio é um ovo às avessas: a casca é dos outros, mas quem se quebra somos nós."


Mia Couto, A confissão da leoa, Alfragide: Editorial Caminho, 2012, p. 21

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Stimme der Liebe



"Um dedo de oração 
tocou-me nos lábios
pedindo silêncio."

Richard Zimler, A Voz do Amor. 72 Haiku Cabalísticos, Braga: AL - Publicações. 2015, p. 49

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Tiefen Schmerz



"Eis-me frente a estas páginas brancas, meu porvir, cuidando derramar minha vida para continuar vivendo, para me ter vivido, para me arrancar à morte de cada instante. A um tempo, cuido consolar-me do meu desterro, do desterro da minha eternidade, deste desterro a que me apetece chamar meu des-céu."

Miguel Unamuno, "Como se faz uma novela", in A Tia Tula, Lisboa: Edições Verbo, s.d., p. 137

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Beweinung



"A amizade não é uma dádiva, é uma espécie de tesouro escondido onde só se alcança depois de ter vencido longamente caminhos e tempestades, e passado portas, e enfrentado monstros e dragões, e voltado muitas vezes atrás e recomeçado de novo a partir da solidão e do exílio. Por isso, a perda de um amigo é, de facto (não apenas metaforicamente ou apenas simbolicamente), a perda de uma parte de nós. Porque somos feitos da confusa e inconstante matéria da memória, da nossa própria memória e da memória dos outros (a nossa memória dos outros e a memória dos outros de nós) e cada um de nós pode também dizer de si: «Eu era um tesouro escondido, e precisei de ser revelado...»"

Manuel António Pina, "Um adeus como todos imenso", in Crónica, saudade da literatura, Lisboa: Assírio & Alvim, 2013, p. 266

Bitte, hör mich an!




"O que é a vida de cada homem senão o esforço desolado de ordenação do caos num cosmos onde se reconheça?"

Manuel António Pina, "A sombra de outra vida", in Crónica, saudade da literatura, Lisboa: Assírio & Alvim, 2013, p.267

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Verloren





"Não há dúvida, está perdida. Deu uma volta, deu outra, já não reconhece nem as ruas nem os nomes delas, então, desesperada, deixou-se cair no chão sujíssimo, empapado de lama negra, e, vazia de forças, de todas as forças, desatou a chorar. Os cães rodearam-na, farejam os sacos, mas sem convicção, como se já lhes tivesse passado a hora de comer, um deles lambe-lhe a cara, talvez desde pequeno tenha sido habituado a enxugar prantos. A mulher toca-lhe na cabeça, passa-lhe a mão pelo lombo encharcado, e o resto das lágrimas chora-as abraçada a ele. Quando enfim levantou os olhos, mil vezes louvado seja o deus das encruzilhadas, viu que tinha diante de si um grande mapa, desses que os departamentos municipais de turismo espalham no centro das cidades, sobretudo para uso e tranquilidade dos visitantes, que tanto querem poder dizer aonde foram como precisam saber onde estão. Agora, estando toda a gente cega, parece fácil dar por mal empregado o dinheiro que se gastou, afinal há é que ter paciência, dar tempo ao tempo, já devíamos ter aprendido, e de uma vez para sempre, que o destino tem de fazer muitos rodeios para chegar a qualquer parte, só ele sabe o que lhe terá custado trazer aqui este mapa para dizer a esta mulher onde está. Não estava tão longe quanto cria, apenas se tinha desviado noutra direcção, só terás de seguir por esta rua até uma praça, aí contas duas ruas para a esquerda, depois viras na primeira à direita, é essa a que procuras, do número não te esqueceste. Os cães foram ficando para trás, alguma coisa os distraiu pelo caminho, ou então muito habituados ao bairro e não querem deixá-lo, só o cão que tinha bebido as lágrimas acompanhou quem as chorara, provavelmente este encontro da mulher e do mapa, tão bem preparado pelo destino, incluía também um cão."

José Saramago, Ensaio sobre a Cegueira, Lisboa: Editorial Caminho. 1995

domingo, 13 de setembro de 2015

Geburtstag


"Pega no presente como se nascesses no Natal e não sofras com o que foi ... que o que foi está longe como o que foi agora uma vez.
Pega no presente e envolve-o lasso suficiente para caber quem gostas.
Pega no presente e começa de novo usando tudo para trás como informação tua noutra vida em que eras o mesmo... mas não tão perfeito.
Pega no presente e percebe que é o momento.
Pega no presente e sabe de cor interiormente, sem cábulas, tudo o que te aconteceu porque tudo o que aconteceu fez sentido, e o sentido foi o que te trouxe até aqui, e aqui é perfeito para dar início a mais um momento áureo.
Pega no presente até ao infinito e perpetua o instante como o especial.
Pega no presente e torna-o tão único como a água e faz dele a pujança inequívoca de estar tão vivo como tudo o que é impressionante.
Pega no presente e pulsa o ritmo cadente de um músculo novo que nasce sem esforço porque se inventa como o vento e as marés.
Pega no presente e faz tudo de novo como se respirasses a coragem.
Pega no presente e acende-o como a luz faz ao escuro.
Pega no presente e mata o medo do teu vocabulário como se só tivesses cheta para um dicionário de bolso.
Pega no presente e faz dele o que virá. E do que foi soubeste ver tudo, gostaste de ver tudo, precisaste de ver tudo.
Pega no presente e sabe que o que se passou foi para te fazer e o que há-de vir há-de ser sempre já."

João Negreiros, O Presente, in "O Manual da Felicidade" (Presente do autor)


sábado, 12 de setembro de 2015

Erste Schritte



“Se iluminar toda a terra de memórias
 mais só eu ficarei. 
 Por isso muito tempo
 deixei de escrever ou de sequer pensar 
 no que escrevia. 
 A memória separa-nos da vida 
 como o vidro de um espelho”

Luís Filipe Castro Mendes, "Os Dias Inventados", Lisboa: Gótica, 2001, 17

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Vorabend 1



"Há horas grandiosas na vida. Olhamos para elas como para as figuras colossais do futuro e da Antiguidade, travamos uma luta magnífica com elas e, se sairmos vencedores, elas tornam-se nossas irmãs e não nos abandonam."

Friedrich Hölderin, Hipérion ou o Eremita da Grécia, Lisboa: Assírio & Alvim, 1997:104

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Traurig



   "Nem sempre sou igual no que digo e escrevo. 
     Mudo, mas não mudo muito.
     A cor das flores não é a mesma ao sol
     De que quando uma nuvem passa
     Ou quando entra a noite
     E as flores são cor da sombra.

     Mas quem olha bem vê que são as mesmas flores.
     Por isso quando pareço não concordar comigo,
     Reparem bem para mim:
     Se estava virado para a direita,
     Voltei-me agora para a esquerda,
     Mas sou sempre eu, assente sobre os mesmos pés —
     O mesmo sempre, graças ao céu e à terra
     E aos meus olhos e ouvidos atentos
     E à minha clara simplicidade de alma ..."

Obra Poética de Fernando Pessoa, Poemas de Alberto Caeiro, Lisboa: Publicações Europa-América, 1986, pp. 117-8

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Maske




      "Para o guerreiro, não existe amor impossível.
  Ele não se deixa intimidar pelo silêncio, pela indiferença, ou pela rejeição. Sabe que - atrás da máscara de gelo que as pessoas usam - existe um coração de fogo.
  Por isso, o guerreiro arrisca mais do que os outros. Busca, incessantemente, o amor de alguém - mesmo que isso signifique escutar muitas vezes a palavra «não», voltar para casa derrotado, sentir-se rejeitado no corpo e na alma.
   Um guerreiro não se deixa assustar quando busca o que precisa."


Paulo Coelho, Manual do guerreiro da Luz, Lisboa: Pergaminho, 2006, p. 72

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Einfach glauben!




"Na verdade, muitas vezes sois felizes sem o saberdes."

Kahlil Gibran,  O Profeta, Mem Martins: Livros de Vida Editores, 2003:85

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Gebet





   "Severino benzeu-se com uma expressão de horror no rosto.
    - Deus nos perdoe a todos! - disse.
    Não havia mais comentários a fazer."

Umberto Eco, O nome da Rosa, Difel: Carnaxide, 1996, p. 261

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Gott ist ein lautes Nichts, ihn rührt kein Nun noch Hier...



"Não me resta senão calar-me.

 (...) 

Está frio no scriptorium, dói-me o polegar. Deixo esta escritura, não sei para quem, já não se a propósito de quê: stat rosa pristina nomine, nomina nuda tenemus"

Umberto Eco, O nome da Rosa, Difel: Carnaxide, 1996, p.493

 

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Ein kleiner Lichtstrahl







"Sei que quanto mais amo menos devo conhecer. Não sei explicá-lo. Sei que a luz ao aproximar-se do meio-dia se faz tarde e anoitece."

Daniel Faria, O Livro do Joaquim, Quasi Edições: V. Nova de Famalicão, 2007, p. 68

Leise



Serás alma talvez, 
nem mais se espera da tua ofuscada luz... 
Mas, quando pintas assim o céu, 
meu coração parte para a eternidade da tua dor...

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Einfach nichts erwarten




"Porque aprendi a conhecer-te, vejo que agora me desprezas. Não o tivesse eu aprendido, e nem isso hoje me importava."

Daniel Faria, O Livro do Joaquim, Quasi Edições: V. Nova de Famalicão, 2007, p. 81

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Erleichterung



 "- Como?
  - Está sempre a ler?
  - Eh...
  - É interessante?
  - Sim.
  - Boa continuação!
  - Obrigado!"

                                                                    Italo Calvino, "A Aventura de um Leitor" in Os Amores Difíceis, Alfragide: Teorema, 2011: 112

domingo, 30 de agosto de 2015

August, ein blauer Monat





"Está sentada, com as mãos sobre os joelhos, e olha pela janela, as horas passam. De vez em quando, chora devagar, as lágrimas começam a correr, funga e respira um pouco. Enxuga as lágrimas. Mas as lágrimas voltam a correr. A tarde fez-se noite."

Ingmar Bergman, "Dependência" in Lágrimas e Suspiros seguido de Persona e de Dependência, Lisboa: Assírio & Alvim, 2002, p. 169

sábado, 29 de agosto de 2015

Gelassenheit



"Vê,
que paz no universo.
A noite
impôs ao céu
a servidão de tantas
tantas estrelas."

Vladimir Maiakovski, «Autobiografia e poemas», Colecção Forma, Editorial Presença, 1973 (http://groups-beta.google.com/group/digitalsource)

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

So einfach...



"J'ai envie d'être célibataire à deux avec toi. J'ai envie que tu ailles prendre une bière avec tes amis, que tu sois magané le lendemain matin et que tu me demandes quand même d'aller te rejoindre parce que tu as envie de m'avoir dans tes bras, en cuillère, en grognant. J'ai envie qu'on parle dans le lit le matin de toutes sortes de trucs, mais que parfois, en après-midi, on décide de prendre chacun un chemin différent pour la journée.
J'ai envie que tu me racontes tes soirées avec tes chums. Que tu me racontes qu'il y avait une fille au bar qui te faisait de l'œil. Que tu m'envoie des textos quand tu es saoul avec tes amis, que tu me dises n'importe quoi, juste pour t'assurer que moi aussi je pense à toi.
J'ai envie qu'on se mette à rire en faisant l'amour. Qu'on se mette à rire parce qu'on essaie des nouveaux trucs et que ça n'a juste pas d'allure. J'ai envie qu'on soit chez nos amis, que tu me prennes par la main et que tu m'emmènes dans une autre pièce parce que tu n'en peux plus et que tu as envie là là de faire l'amour avec moi. J'ai envie d'essayer de rester silencieuse alors qu'il y a des oreilles qui pourraient nous entendre.
J'ai envie d'aller manger avec toi, que tu me fasses parler de moi, que tu parles de toi. Qu'on s'agace sur Hochelag' versus le Plateau, la Rive-Sud versus la Rive-Nord. J'ai envie qu'on imagine le loft de nos rêves, tout en sachant qu'on ne déménagera probablement jamais ensemble. Que tu me parles de tes projets qui n'ont ni queue, ni tête. J'ai envie d'être surprise. De me faire dire: prends ton passeport, on part.
J'ai envie d'avoir peur avec toi. De faire des trucs que je ne ferais pas avec un autre, parce qu'avec toi, j'ai confiance! De rentrer trop saoule après une bonne soirée avec les amis, baiser et se foutre de tout. Que tu me prennes le visage, que tu m'embrasses, que tu te serves de moi comme ton oreiller tellement tu me serres fort la nuit.
J'ai envie que tu aies ta vie. Que tu décides sur un coup de tête de partir en voyage quelques semaines. Que tu me laisses seule ici à m'ennuyer et à souhaiter avoir un petit pop-up de Facebook avec ta face qui me dit coucou.
J'ai envie de ne pas toujours être invitée dans tes soirées et j'ai envie de ne pas toujours t'inviter dans les miennes. Tout ça pour pouvoir te le raconter et t'entendre me raconter tes soirées le lendemain.
J'ai envie de quelque chose qui sera à la fois simple et à la fois pas si simple. Quelque chose qui fera en sorte que je me poserai souvent des questions, mais que la minute où je serai dans la même pièce que toi, je saurai.
J'ai envie que tu me trouves belle, que tu sois fier de dire que nous sommes ensemble. J'ai envie de t'entendre me dire que tu m'aimes et j'ai surtout envie de te le dire en retour.
J'ai envie que tu me laisses marcher devant toi pour regarder mes fesses aller de gauche à droite. Que tu me laisses gratter les vitres de mon auto l'hiver parce que mes fesses gigotent et que ça te fait sourire.
J'ai envie de faire des projets ne sachant même pas s'ils vont se réaliser. D'être dans une relation qui est tout sauf claire. J'ai envie d'être ta bonne chum, celle avec qui tu aimes chiller.
J'veux que tu gardes ton envie de flirter avec les autres filles, mais que tu reviennes vers moi pour terminer ta soirée. Parce que moi, j'aurai envie de retourner avec toi.
J'ai envie d'être celle avec qui tu aimes faire l'amour et t'endormir. Celle qui reste à l'écart quand tu travailles et qui aime tellement quand tu pars dans ton monde de musique.
J'ai envie de vivre une vie de célibataire avec toi. Que notre vie de couple, soit l'équivalent de nos vies de célibataires actuelles, mais ensemble.
Un jour, j'te trouverai."


Isabelle Tessier, "Celibataires à deux" in http://quebec.huffingtonpost.ca/isabelle-teissier

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Wer kommt noch?



"Estaremos condenados a eterno e cinzento nevoeiro? Talvez, a menos que enchamos coração e peito, inventando a brisa colorida que devolverá aos dias clássico diagnóstico - céu muito nublado com boas abertas."

                                              Júlio Machado Vaz, Estes difíceis amores, Lisboa: Dom Quixote, 2002, p. 152