terça-feira, 31 de março de 2015

Sonst nichts...



"É a cópia mais perfeita que eu já vi. Mas é uma cópia."

Miguel Miranda, A Paixão de K, Porto: Porto Editora, 2013:95

quarta-feira, 25 de março de 2015

Erfüll davon dein Herz!




"Através dos seus grandes defeitos - que um dia ela pudesse mencionar sem se vangloriar - é que chegara agora a poder amar. (...) Talvez fossem os seus «apesar de» que, cheios de angústia e desentendimento de si própria, a estivessem levando a construir pouco a pouco uma vida. (...)Era cruel o que fazia consigo própria: aproveitar que estava em carne viva para se conhecer melhor, já que a ferida estava aberta. Mas doía de mais mexer-se nesse sentido. Então preferiu apaziguar-se e planejou que, no táxi, pensaria no nariz recto de Ulisses, na sua cara marcada pela aprendizagem lenta da vida, nos lábios que ela jamais beijara.
Só que ela não queria ir de mãos vazias. E assim como se lhe levasse uma flor, ela escreveu num papel algumas palavras que lhe dessem prazer (...)."

                                                                            Clarice Lispector, Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres", Lisboa: Relógio D' Água, 1999, p. 23-4

Neue Leiden



" O DESTINO

Como podes saber? Quem pode saber? Há-de continuar um enigma, percebes?... um segredo... maior do que nós. Podes averiguar o sentido do vento e saber onde a sua velocidade se anula. Mas ninguém é senhor do seu próprio sopro, nem capaz de o conservar. Deixa as coisas como estão. Para todos os vivos só há uma coisa certa: mais vale um cão vivo que um leão morto. Deixa as coisas como estão."

José Tolentino Mendonça, O Estado do BosqueLisboa: Assírio & Alvim,2013, p.53

terça-feira, 24 de março de 2015

Neuer Verlust




"No tempo em que Deus criou todas as coisas,
criou o sol,
e o sol nasce, e morre, e volta a nascer;
criou a lua,
e a lua nasce, e morre, e volta a nascer;
criou as estrelas,
e as estrelas nascem, e morrem, e voltam a nascer;
criou o homem,
e o homem nasce, e morre, e não volta a nascer."


                                                                                                                            Herberto Helder, Poesia Toda, Lisboa: Assírio & Alvim,1996, p.481

domingo, 22 de março de 2015

Es ist so weit...




"Eu também tenho medo... Tenho medo que entrar no bosque seja andar para trás. E se tudo não passar de um eterno retorno?"


                                 José Tolentino Mendonça, O Estado do BosqueLisboa: Assírio & Alvim, p. 35 

sexta-feira, 20 de março de 2015

Trauer 6



"Quando eu um dia decisivamente voltar a face
daquelas coisas que só de perfil contemplei
quem procurará nelas as linhas do teu rosto?"


Ruy Belo, Todos os Poemas, Lisboa: Assírio & Alvim, 2000, p. 52

quarta-feira, 18 de março de 2015

In Memoriam: C.




"A morte dos amigos e conhecidos traz uma pergunta enigmática que nos destrói a imortalidade."

                                    Vergílio Ferreira, Escrever, Lisboa: Bertrand Editora, 2001 , p. 174

domingo, 15 de março de 2015

Ein Gebet für C.




"Em nome dos que choram,
Dos que sofrem,
Dos que acendem na noite o facho da revolta
E que de noite morrem,
Com esperança nos olhos e arames em volta.
Em nome dos que sonham com palavras
De amor e paz que nunca foram ditas,
Em nome dos que rezam em silêncio
E falam em silêncio
E estendem em silêncio as duas mãos aflitas.
Em nome dos que pedem em segredo
A esmola que os humilha e os destrói
E devoram as lágrimas e o medo
Quando a fome lhes dói.
Em nome dos que dormem ao relento
Numa cama de chuva com lençóis de vento
O sono da miséria, terrível e profundo.
Em nome dos teus filhos que esqueceste,
Filho de deus que nunca mais nasceste,
Volta outra vez ao mundo!"

José Carlos Ary dos Santos, "Kyrie", in Obra Poética, Lisboa: Editorial «Avante!», 1995: 101

sábado, 14 de março de 2015

Genieße den Tag!






"Pensar, pra quê? Que pensem os outros. Raro
O pássaro que faz do céu seu ramo.
Eu quero é pensar muito é nos que amo
Antes que a morte aponte a mim seu faro."


                                                             Daniel Jonas, Lisboa: Assírio & Alvim, 2014, p. 27

segunda-feira, 9 de março de 2015

Trauer 5



"Acaso merecíamos a noite?"


                                                                                Daniel Jonas, Lisboa: Assírio & Alvim, 2014, p. 15 

domingo, 8 de março de 2015

In der Ferne...




"Acorda. À distância, acorda! Mãos
Me faltam pra acordar-te. Se os astros
Puderem, vá, desperta, alabastros
Te acendam esta noite, os ciclos vãos!
Se os meus brandões são luzes de presença,
Que pesadelos clamem, pedras choquem,
Clarões de guerra estalem, sinos toquem,
Que estou em crer que já não te pertença...
Mas, crê-me, paz te sonho, é só egoísmo,
Vontade de sentires que te falto.
Desculpa, eu sei, é tarde, e sobressalto
Nenhum te quero, só um brando sismo. 
Nem isso. Dorme. Esquece o meu alarme.
Converte-o no que é: um sonho, um carme..."

                                                                    
Daniel Jonas, Lisboa: Assírio & Alvim, 2014, p. 22


sábado, 7 de março de 2015

Umsonst



"Um dia acordamos e não tens mãos.São galhos, pinças desajeitadas cheias de folhas... Os braços pesam-te como ramos e tu não sabes mais... E quando te olhas ao espelho investe contra ti uma mata confusa."

José Tolentino Mendonça, O Estado do BosqueLisboa: Assírio & Alvim, p. 15