quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Am letzten Tag des Jahres



"acabou o tempo de lembrar
 choro no dia seguinte 
 as coisas que devia chorar hoje"

Ondjaki, Os transparentes, Alfragide: Caminho, 2012, p.9

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Lösch mir die Augen aus!





"Lösch mir die Augen aus: ich kann dich sehn
wirf mir die Ohren zu: ich kann dich hören,
und ohne Füsse kann ich zu dir gehen,
und ohne Mund noch kann ich dich beschwören.
Brich mir die Arme ab, ich fasse dich
mit meinem Herzen wie mit einer Hand,
halt mir das Herz zu, und mein Hirn wird schlagen,
und wirfst du in mein Hirn den Brand,
so werd ich dich auf meinem Blute tragen."


Rainer Maria Rilke, O Livro das Horas, Lisboa: Assírio & Alvim, 2008, s. 196

Liebe



"Construo o pensamento aos pedaços: cada
ideia que ponho em cima da mesa, é uma parte do
que penso; e ao ver como cada fragmento se
torna um todo, volto a parti-lo, para evitar
conclusões."

                                                                                                                                    Nuno Júdice, Filosofia  in Pedro Lembrando Inês, Lisboa: Publicações D. Quixote, 2001, p. 38

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Gelassenheit



  "o intenso silêncio
   vinha de longe, mais longe que as fronteiras da cidade. um silêncio esquisito, manto que convidava a mais silêncio."

 Ondjaki, Os transparentes, Alfragide: Caminho, 2012, 205

domingo, 27 de dezembro de 2015

Wenn die Sonne untergeht..






"nada resta desse tempo
quieto de dias plácidos
e noites longas
flechas de veneno
moram no coração dos vivos
acabou o tempo de lembrar
choro no dia seguinte
as coisas que devia chorar hoje"

Paulo Tavares, como veias finas na terra, citado por Ondjaki, Os transparentes, Alfragide: Caminho, 2012, 427

sábado, 26 de dezembro de 2015

Ist es schon vorbei?



"Recusava-me a acordar. Queria dormir até ao fim da noite e, já agora, até que terminasse o fim de semana. Passar da noite de sexta-feira para a manhã de segunda-feira, sem respirar, sem sonhar, sem pensar, de uma assentada, numa só luta."

   Valérie Tong Cuong, O Atelier dos Milagres, Barcarena: Marcador Editora. 2015, p. 9

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Frohe Weihnachten



"Somos folhas breves onde dormem
aves de sombra e solidão.
Somos só folhas e o seu rumor.
Inseguros, incapazes de ser flor,
até a brisa nos perturba e faz tremer.
Por isso a cada gesto que fazemos
cada ave se transforma noutro ser."

Eugénio de Andrade


domingo, 20 de dezembro de 2015

So ist es!



"Apercebi-me da enorme solidão que me atormentava, sentia a sua presença como se fosse um estranho que se tivesse sentado ao meu lado e tivesse encostado a cabeça ao meu ombro. A solidão deve ser a única emoção que não conseguimos partilhar, se o fizermos ela desaparece."

                                                                                                                                                                      Afonso Cruz, Flores, Lisboa: Companhia das Letras. 2015, p. 186

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Wohin?




"À noite, deito-me como uma semente na almofada húmida do coração. Fico aninhado com esperança de crescer esplendorosamente por dentro do amor. No verdadeiro amor tudo é para sempre vivo. E sei que, como as pedras, vivo da sede. Quero sempre inventar a vida."

Valter Hugo Mãe, "As mais belas coisas do mundo" in   Contos de cães e maus lobos, Porto: Porto Editora , 2015, p. 128

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Zum Gedenken an einen Freund (Für A. S.)




"Há um limite para toda esta desolação,
Para estas falésias desfiguradas e mutiladas, 
Para estas eminências arruinadas de muralhas minadas pelo mar que deslizam
   Para o mar com todos os seus taludes de flores batidas pelo vento,
Mas felizes por viver, antes que a esperança se aquiete
   Sob o tumulto das sombrias e densas ondas e horas?"

A. C. Swinburne, Poemas, Relógio D' Água, 2005, p.  165

domingo, 6 de dezembro de 2015

Vierte Stufe




"Ouvis? Ou alguma amável loucura 
comigo brinca? Parece-me que já te ouço,
que já passeio por entre os pios bosques,
que amenas águas e brisas visitam."

                                                                                                                                                                                                                Horácio, Odes, Lisboa: Livros Cotovia. 2008, p.188

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Vorabend 4




"O mundo não acabou. Esperava que Deus tivesse intervindo, tal como havia feito com Isaac. Quando Abraão estava prestes a sacrificá-lo, baixou a sua mão e impediu que Abraão matasse o filho. Nós somos os seus filhos, estamos à Sua espera. Não aconteceu, claro. Mas também não aconteceu o que o senhor Ulme desejaria, o que todos desejaríamos - que as pessoas tivessem vergonha da sua humanidade e, ao ver o golem, dissessem: Mudaremos."


                                                                                                                                                                                             Afonso Cruz, "Flores", Lisboa: Companhia das Letras , 2015, p. 245