terça-feira, 24 de novembro de 2015

Hoffnung und Kraft für E. T.



"Percebi que para dentro de nós há um longo caminho e muita distância. Não somos nada feitos do mais imediato que se vê à superfície. Somos feitos daquilo que chega à alma e a alma tem um tamanho muito diferente do corpo.
Percebi que ver verdadeiramente uma pessoa obriga a um esforço como o de estarmos sentados nos nossos bancos a tomar conta dos montes."


  Valter Hugo Mãe, "O rosto" in   Contos de cães e maus lobos, Porto: Porto Editora , 2015, p. 85-6

sábado, 21 de novembro de 2015

Am nächsten Tag



"Com o tempo, depois das flores de papel, depois de nadar no riacho, depois de aprender a fazer compota para um lanche no jardim, depois de um primeiro beijo, eu acreditei que todas as coisas que imaginara até então se alegravam por mim. Porque nenhuma tristeza define obrigatoriamente o que podemos fazer no dia seguinte. No dia seguinte, ainda que guardemos a memória de cada dificuldade, podemos sempre optar por regressar à busca das ideias felizes.
    Eu comecei pelos poemas de amor. Foi o melhor que me poderia acontecer."

                                                                                                                      Valter Hugo Mãe, "Querido Monstro" in   Contos de cães e maus lobos, Porto: Porto Editora , 2015, p. 52

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Schwächen



"- É muito fácil destruir. Uma pessoa parte um raminho de uma árvore com apenas dois dedos, mas não consegue voltar a colá-lo nem contratando a NASA."

Afonso Cruz, Flores, Lisboa: Companhia das Letras. 2015, p. 153

domingo, 15 de novembro de 2015

Dritte Stufe



"Tu não perguntes (é-nos proibido pelos deuses saber) que fim a mim, a ti,
os deuses deram, Leucónoe, nem ensaies cálculos babilónicos.
Como é melhor suportar o que quer que o futuro reserve,
quer Júpiter muitos invernos nos tenha concedido, quer um último,

este que agora o tirreno mar quebranta ante os rochedos que se lhe opõem.
Sê sensata, decanta o vinho, e faz de uma longa esperança 
um breve momento. Enquanto falamos, já invejoso terá fugido o tempo:
colhe cada dia, confiando o menos possível no amanhã."

                                                                                                                                                                                                                  Horácio, Odes, Lisboa: Livros Cotovia. 2008, p. 69

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Vorabend 3




"Lá longe, distante,
canta o pôr-do-sol rosa e dourado
da Misericórdia Divina."


                                                                                    Richard Zimler, A Voz do Amor. 72 Haiku Cabalísticos, Braga: AL - Publicações. 2015, p. 22

domingo, 8 de novembro de 2015

Freundschaft (Für E. und J.)



"Quando encontramos um amigo, mesmo depois de muitos anos, é como se o tivéssemos deixado um momento antes. Retomamos a conversa como se fosse um diálogo interrompido. E no entanto não é um diálogo interrompido, não é a continuação daquela conversa. O assunto é diferente. Nós mudamos, os nossos problemas mudaram. Não obstante, temos a impressão de continuar aquilo que estávamos a fazer. Como se não tivesse havido intervalo, como se o tempo não tivesse passado. É um fenómeno desconcertante."

Francesco Alberoni, "A Amizade", Venda Nova: Bertrand Editora, 1996, p. 29 

sábado, 7 de novembro de 2015

Zum Gedenken an einen guten Freund (Für C. S. F.)




"O pardalzinho nasceu 
Livre. Quebraram-lhe a asa.
Sacha lhe deu uma casa,
Água, comida e carinhos.
Foram cuidados em vão:
A casa era uma prisão,
O pardalzinho morreu.
O corpo Sacha enterrou
No jardim; a alma, essa voou
Para o céu dos passarinhos!"

                                          Manuel Bandeira 

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

So einfach...



"Sabe, ontem acordei colorida. Assim porque vi uma porção de coisas sempre vistas e nunca vistas, amei o movimento a vida, sabe como é, um dia que a gente tem olhos para ver. E foi tão bonito que te dei o meu dia. O presente é meio mixo para gente linda-tão-linda que tu me deste (vou conversar com ela quando estiver sozinha) mas foi tão bonito e grande e claro. Hoje estou a mesma chata de sempre, que não sabe telefonar (...)"

                                                                                                        Clarice Lispector, "O Grito", in A Descoberta do Mundo - Crónicas, Lisboa: Relógio d' Água, 2013, p.  107