quinta-feira, 5 de julho de 2012

Und jetzt ist alles gesagt, mein Freund, und du wirst es nicht verstehen!







Veludo de silêncio. O ponteiro é o eco antes da palavra. Aparece no bolso um lápis rombo que dir-se-ia ter roído as unhas. O lápis só escreve as sombras das palavras. Como se aproveitam dos borrões os compositores de música! Os borrões que atiramos ao acaso para despejar a caneta caem nas pétalas amarelas e brancas dos pensamentos. Franzimos o sobrolho porque queremos agarrar com pinças um grande pensamento que nos escapa. Às vezes pensamos que, tal como as estrelas nos enviam luz de há milhares de anos, nós próprios vivemos há muito este dia que hoje estamos a viver de novo. O dia límpido, nítido e diáfano cheira a relógio. O pêndulo do relógio embala as horas. Às doze horas, os ponteiros do relógio apresentam as armas. Há coxos com perna de pau que florescem na primavera e se tornam sátiros. Os coxos que usam um sapato com cunha parece que andam sobre o féretro de um pé.



O escritor quer escrever a sua mentira e escreve a sua verdade!



Ramón Gómez de la Serna, "Greguería", Assírio & Alvim: Lisboa, 1998 (texto composto)

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