"Eu sei que o meu desespero não interessa a ninguém.
Cada um tem o seu, pessoal e intransmissível;
com ele se entretém
e se julga intangível.
Eu sei que a Humanidade é mais gente do que eu,
sei que
o Mundo é maior do que o bairro onde habito,
que o
respirar de um só, mesmo que seja o meu,
não
pesa num total que tende para infinito.
Eu sei
que as dimensões impiedosos da Vida
ignoram
todo o homem, dissolvem-no, e, contudo,
nesta
insignificância, gratuita e desvalida,
Universo sou eu, com nebulosas e tudo."
António Gedeão, "Amostra sem valor", in Obra Completa, Lisboa: Relógio d' Água, 2004, p. 167
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