sexta-feira, 13 de junho de 2014

Suche



"Só quem procura sabe como há dias
de imensa paz deserta; pelas ruas
a luz perpassa dividida em duas:
a luz que pousa nas paredes frias,

outra que oscila desenhando estrias
nos corpos ascendentes como luas
suspensas, vagas, deslizantes, nuas,
alheias, recortadas e sombrias.

E nada coexiste. Nenhum gesto
a um gesto corresponde; olhar nenhum
perfura a placidez, como de incesto,

de procurar em vão; em vão desponta
a solidão sem fim, sem nome algum - 
- que mesmo o que se encontra não se encontra."


Jorge de Sena, "Desencontro", in Antologia Poética, Lisboa: Edições Asa, 2001, p. 97

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