quarta-feira, 9 de março de 2011
Der endgültige Verlust 4
"Tenho aflição por tudo o que morre
Como tenho pavor por cada noite que cai.
Como fui esquecer o caminho para fora?
Infeliz que esqueci as sendas da caça.
Comerei erva? Sol? Comerei estepes e estepes
A arder?
Vou pôr-me à mesa e esperar.
Tenho aflição por toda a ausência não anunciada
Acendi a luz por toda a casa e electrifiquei a voz
Agora posso ampliar o clarão dos gritos.
Posso abrir os trilhos no fogo: sei o ritmo da mão exacta
Que fez o povo atravessar enxuto o interior da água.
Vou-me sentar à mesa. Vou deixar arrefecer a comida.
Fazer de conta que estou a esperar."
Daniel Faria, Poesia, edição de Vera Vouga, 2ª ed., V. Nova de Famalicão: Quasi Edições, 2006, p. 40
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