"É tempo de terminar. Tenho um longo caminho para casa. Estive a escrever, durante quatro horas, agora quero ordenar as folhas e ir para casa. (...) Uma pessoa não devia escrever... Está-se tão rapidamente disposto a esquecer coisas que se viveu e a negar sentimentos. Penso frequentemente que não sinto nada e mais tarde penso que tudo aquilo não foi importante. (...) Tal como hoje, havia silêncio em mim, de modo que posso ouvir o vento lá fora. Serei cobarde ou não sou suficientemente diligente para me transportar de volta ao passado? Na recordação, os sentimentos bons também doem e é melhor não se fazer caso deles. Mas quando escrevo, tudo regressa espontaneamente, nem sequer me apercebo e, de repente, estou no meio de tudo, agitado e perturbado.
Tenho que me tornar a dizer sempre e repetidamente que estou sozinho. (...)
E de repente fico com calor e o meu coração bate e penso que já estive aqui uma vez."
Annemarie Schwarzenbach, Novela Lírica, Granito Editores e Livreiros: Porto, 2002, pp. 91-2.
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