"Não tenho nenhum intuito especial ao escrever estas linhas, não viso nenhum objectivo, não tenho em vista nenhum fim. (...)
Até hoje, todas as minhas cartas de amor não são mais que a realização da minha necessidade de fazer frases. Se o Prince Charmant vier, que lhe direi eu de novo, de sincero, de verdadeiramente sentido? Tão pobre somos que as mesmas palavras nos servem para exprimir a mentira e a verdade! (...)
Só se pode ser feliz simplificando, simplificando sempre, arrancando, diminuindo, esmagando, reduzindo; e a inteligência cria em volta de nós um mar imenso de ondas, de espumas, de destroços, no meio do qual somos depois o náufrago que se revolta, que se debate em vão, que não quer desaparecer sem estreitar de encontro ao peito qualquer coisa que anda longe: raio de sol em reflexo de estrelas. (...)
Sinto-me só. Quantas coisas lindas e tristes eu diria agora a Alguém que não existe! (...)
«La tendresse humaine ne peut s'exprimer que par un seul geste: celui d'ouvir et de refermer les bras.» (...)
E não haver gestos novos nem palavras novas!"
Florbela Espanca, diário do último ano, Venda Nova: Bertrand Editora, 1998 (excertos)
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