("A menina doente", E. Munch)
"E eu caminhei no Hospital
Onde o branco é desolado e sujo
Onde o branco é a cor que fica quando não há cor
E onde a luz é cinza
E eu caminhei nas praias e nos campos
O azul do mar e o roxo da distância
Enrolei-os em redor do meu pescoço
Caminhei na praia quase livre como um deus
Não perguntei por ti à pedra meu Senhor
Nem me lembrei de ti bebendo o vento
O vento era vento e a pedra pedra
E isso inteiramente me bastava
E nos espaços da manhã marinha
Quase livre como um deus eu caminhava
Porém no hospital eu vi o rosto
Que não é pinheiral nem é rochedo
E vi a luz como cinza na parede
E vi a dor absurda e desmedida"
Sophia de Mello Breyner Andresen, Obra Poética II, Caminho: Lisboa, 1995, p. 138
Sem comentários:
Enviar um comentário