"- Adeus - disse para a flor.
Mas ela não lhe respondeu.
- Adeus - repetiu o principezinho.
A flor tossiu. Mas não era por causa da constipação.
- Eu fui uma tola - acabou finalmente por dizer. - Desculpa. Vê se consegues ser feliz.
Ficou espantado por ela não se pôr com recriminações. E para ali se deixou ficar, totalmente desconcertado, de redoma no ar. Não conseguia compreender aquela mansidão, aquela calma.
- Porque é que estás tão admirado? É evidente que eu te amo - disse-lhe a flor. - Nunca o soubeste por culpa minha. Mas isso, agora, já não tem qualquer importância. Olha que tu também foste tão parvo como eu. Agora vê se consegues ser feliz... E deixa essa redoma em paz. Já não a quero.
- E o vento?
- Não estou tão constipada como isso... O fresco da noite há-de fazer-me bem. Sou uma flor!
- E os bichos?
- Duas ou três lagartas terei eu de suportar se quiser saber como são as borboletas. Parece que são tão bonitas! E, se não forem elas, quem se lembra de me vir cá visitar? Tu, tu hás-de estar bem longe. E dos bichos maiores, não tenho nada a recear. Afinal, para que quero eu as minhas garras?
E mais uma vez exibia ingenuamente os seus quatro espinhos. Depois, ainda disse:
- Não fiques para aqui a empatar, que me irritas! Não te resolveste a ir embora? Pois então vai!
Porque ela não queria que ele a visse chorar. Era uma flor tão orgulhosa..."
Antoine de Saint-Exupéry. O Principezinho. Tradução de Joana Morais Varela. Rio de Janeiro: Editora Caravela, 1987.
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