domingo, 23 de setembro de 2012

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"O que nele amava não se poderia realizar como uma estrela no peito - sentira tantas vezes o seu próprio coração como uma dura bolha de ar, como um cristal intraduzível. Sobretudo o que nele amava, tão pálido e malicioso, era de uma qualidade impossível, pungente como um agudo desejo ridículo (...). Pensou com surpreendente clareza, usando para si mesma quase palavras: eu o amo como ao que faz bem, ao que dá bem-estar mas não ao que está fora do corpo e que jamais o apaziguará e que se quer alcançar mesmo com a desilusão (...). Doía-lhe porém pensar assim, tanto era terno, pressuroso e cheio de vida alvoroçada ele existir nela, respirar, comer, dormir e não saber que ela poderia pensar assim dele."
 
Clarice Lispector, O Lustre, Lisboa: Relógio D' Água, 2012, p. 190

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