"- Daniel ..., murmurou Virgínia, nem com você eu posso falar?
- Não, disse ele supreendido com a própria resposta.
Hesitaram um instante, delicados, quietos. Não, não!..., negava ela o medo que se aproximava, como para ganhar tempo antes de se precipitar. Não, não, dizia evitando olhar ao redor. A noite descera, a noite descera. Não se precipitar! mas de repente algo não se conteve e principiou a suceder... Sim, ali mesmo iam-se erguer os vapores da madrugada doentia, pálida, como um fim de dor - enxergava Virgínia de súbito calma, submissa e absorta. Cada galho seco se esconderia sob uma luminosidade de caverna. Aquela terra além das árvores, castrada nos brotos pela queimada, seria vista através da mole neblina, enegrecida e difícil como através de um passado - via ela agora quieta e inexpressiva como sem memória."
Clarice Lispector, O Lustre, Lisboa: Relógio D' Água, 2012, p. 11
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