domingo, 29 de agosto de 2010

Die Augen der Liebe...



"Porém, quando aproxima a luz e lança a claridade sobre os segredos do leito, deparou com a mais encantadora e doce de todas as feras selvagens: Cupido em pessoa, o formoso deus, que repousava num quadro repleto de formosura!(...) Esgotada já e sem esperança de salvação, recuperou no entanto a presença de espírito, ao remirar uma e outra vez a beleza do rosto divino. Contempla uma nobre cabeleira num vulto de ouro e embebida em ambrósia, um colo de leitosa alvura, umas faces rosadas, uns anéis de cabelo esparzidos e harmoniosamente enredados, ora a pender para a frente ora para trás, cujo brilho era de tal maneira fulgurante que fazia vacilar a própria luz da lucerna. Pelos ombros do deus alado, resplandecia uma penugem, com a candura das flores cintilantes, bafejadas pelo orvalho. E embora as asas estivessem em repouso, a fofinha e delicada plumagem das pontas bulia, sem parar, em caprichoso estremecimento. O restante corpo era tão macio e brilhante que nem a própria Vénus se podia envergonhar de o trazer ao mundo. Aos pés do leito, jaziam arco, alijava e flechas, propícias armas do poderoso deus."

Apuleio, Conto de Amor e Psique, Lisboa: Biblioteca Editores Independentes, 2010, pp. 79-80.

Sem comentários: