há um lugar muito distante na minha
memória onde nos encontrámos. seguíamos incautos e cruzávamos por entre os
passos e regressávamos a casa. um dia os passos foram palavra e voaram. eram passos
largos e marcavam os espaços. passos simples, passos soltos. passos que
conheciam os dias e as noites. e eu reparava e ficava feliz e tinha brilho o
silêncio que faziam. depois cresceram e eram já todo o silêncio. muito tempo os
vi no parque, sobre a relva, ou na água que chega do mar. durante a noite
acordava e observava-os em silêncio. via cada pegada que deixavam e
alegrava-me. havia promessas nos passos errantes e densos. e esperava ansiosa que a palavra voltasse. por fim, recolhi-me
nos lençóis onde, já habituada, me trespassa o silêncio dos teus passos. e
sempre neste silêncio partilho contigo o dia de ontem.
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