quarta-feira, 9 de abril de 2014

Freundschaft


"Porque pensar? recordar? convocar o passado que nada aqui tem que fazer? A tua vida são os estritos limites em que tens de te mover, cada momento irredutível em que tens de existir. (...) Ouço o tempo no relógio, no seu bater compassado. E assim me parece que se me levantasse, fosse cuidar já do que é preciso, de que serve ter pressa? dilatar o mais possível cada instante que passa, olhar em volta e ver e ouvir. A vida está tão cheia de mistério, de coisas novas.Ver as cores, ouvir bem os sons que nos rodeiam - canta! Ver, ouvir, aspirar os perfumes que passam na aragem, tocar os volumes das coisas, o macio deste tecido do sofá. Recuperar a virgindade de ser para ser em toda a plenitude. Absorver intensamente a vida que ainda tiver a viver. Oh, para quê. Toda a minha razão de ser deve estar na integração de mim, do meu ser nulo a prestações - e todavia. É bom recordar. Recuperar a vida desde onde ela morreu."

Vergílio Ferreira, para sempre, Lisboa: Bertrand Editora, 2001 , p. 199 

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