"Provavelmente está tudo dito. Mesmo o sentimento da ociosidade e da inutilidade das palavras é uma sensação infinitamente cansada. E, no entanto, temos de dizer tudo de novo todos os dias, de juntar os pedaços dispersos do mundo e, com eles, descobrir para nós um lugar do nosso tamanho ou, ao menos, uma forma de sentido para aquilo a que chamamos a nossa vida. E, para isso, tudo o que temos são palavras. O que sabemos: palavras; o que sonhamos: palavras; o que sentimos: palavras; e a nossa boca que fala é, também ela, só uma frágil e insegura palavra."
Manuel António Pina, "Apresentação sob a forma de crónica", in Crónica, saudade da literatura, Lisboa: Assírio & Alvim, 2013, p. 234
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