"Um rio extravasou-me da memória, a que o mantinham preso as forças do passado. Nas suas margens, o meu corpo divide-se entre a História e a atmosfera, tomando assim o peso à realidade que através de todos os meus poros se prcura incorporar na marcha dos sentidos. Alguma coisa nela toma por transporte a luz, outra as metáforas que cuidadosamente vou tentando encaminhar para um terreno mais seguro. Um pão aguarda entre os escombros que a solidão venha devorá-lo. Sei que existe algures um espelho onde a imagem do meu rosto incorpora a eternidade, mas os olhos de que por enquanto vou dispondo não me permitem vislumbrá-lo. Parece trepidar a toda a minha volta um mecanismo de que a História fosse o combustível. Da memória abro veredas para as partes do meu corpo mais expostas à devastação das águas."
Luís Miguel Nava, Poesia Completa 1979-1994, Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2002, p. 195
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