"e então ela levanta-se e caminha ao longo do corredor enfeitado com plantas verdes, toma o elevador e desce até ao piso da entrada, Afonso acaba de transpor a porta, atravessa rapidamente o átrio, sorri ao vê-la, vinha procurar-me, dizes, não, não vinha procurar-te, digo, e saio a porta, tomo o primeiro taxi, subo no elevador até ao último andar e entro em casa, afasto os cortinados e abro todas as janelas, tiro a mola de segurança da porta da cozinha e a grade que protege os discos do fogão, entro na sala e dobro o parque redondo, que arrumo depois num espaço, ao canto do armário, e agora tudo fica certo no dia calmo e límpido e claro, posso esperar tranquilamente o teu regresso antes de ir-me embora, posso esperar tranquilamente a tarde toda, o dia é liso e longo, e tudo o que eu tinha a fazer já foi feito."
Teolinda Gersão, O silêncio,
Lisboa: Sextante Editora, 5ª edição, 2007, p. 119
Sem comentários:
Enviar um comentário