quarta-feira, 26 de março de 2014

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"Se soubesse que o calor era sazonal
ter-me-ia espraiado num raio de sol contínuo
deixando-me longamente envolver num casulo de verão
vivendo nas asas de uma qualquer ave migradora
rumando continuamente para o sul
dividindo o tempo entre o mar e a terra em brasa
e assim seria para sempre o estio dos teus olhos
a secura afogada na tua fonte
a onda finda na praia
onde nas tuas mãos de concha
nos teus braços esculpidos de vento
nos teus olhos de marés contínuas
no teu ventre de salitre maduro
me derramaria diluindo-me
em teu corpo de areia"

José Bernardes, Mãos Inquietas, Porto, Edita-me, 2012, p. 51

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