"TESMAN
Quase a nascer... quase a nascer o segundo dia. O segundo dia dos Tesman. Preferia que o primeiro não tivesse ainda acabado. Tentar prolongá-lo. Pedir ao sol que esperasse. Só que o sol não espera. Vão-se os anos como a água corrente. A onda que passou não volta a ser chamada. Os dias encolhem. O Outono passa a Inverno. E a casa resiste. As paredes ainda aqui estão. Estão. E o amor também. O amor dilui-se. Desconcentra-se. Altera-se. Adquire alcance e dimensão. Perde luminosidade. Ou cor. Ou ganha. Vai e vem. E permanece. E o sol volta a nascer e eu acabo sempre por entrar nesta casa. Sempre o gesto final, a entrada. A minha entrada aqui ao final do dia. No começo da manhã. Antes que o sol nasça. A nossa casa. O nosso destino. E a cabeça não pára."
José M. V. Mendes, Hedda, Lisboa: Edições Cotovia, 2010, p. 43
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