"Há algo que pode doer, ferir e queimar de tal maneira que talvez nem a morte seja capaz de dissolver esse sofrimento: se uma ou duas pessoas ferem aquele amor-próprio profundo, sem o qual não podemos viver em dignidade. Vaidade, dirias tu. Sim, vaidade... porém, essa dignidade é o conteúdo mais profundo da vida humana. Por isso temia o segredo. Por isso aceitamos qualquer solução, mesmo uma solução vil e cobarde - olha à tua volta, e encontras sempre essa solução a meio termo entre pessoas, na vida: um vai-se embora daquela ou daquelas pessoas que ama, porque tem medo do segredo, o outro fica, guarda silêncio e espera por alguma resposta... Foi isso que eu vi. E vivi. Não é cobardia isso, não... é a última defesa do instinto para viver. Voltei para casa, esperei até à noite, depois fui para a casa de caça e estive à espera de algo, de uma palavra, de uma mensagem (...)"
Sándor Márai, As velas ardem até ao fim, Alfragide: Publicações D. Quixote, 2001 , p. 139
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