"Tanto que fazer!
Livros que não se lêem, cartas que não se escrevem,
línguas que não se aprendem,
amor que não se dá,
tudo quanto se esquece.
Amigos entre adeuses,
crianças chorando na tempestade,
cidadãos assinando papéis, papéis, papéis…
até o fim do mundo assinando papéis.
E os pássaros detrás de grades de chuvas,
e os mortos em redôma de cânfora.
( E uma canção tão bela! )
Tanto que fazer!
E fizemos apenas isto.
E nunca soubemos quem éramos
nem para quê."
Cecília Meireles, Antologia Poética, Lisboa: Relógio d'Água, 2002, p. 300