"Mas não desistas ainda, tens tanto ainda que amar. Olha a vida e sorri. E não te perguntes para quê. Porque o mais extraordinário dela é justamente não ter para quê. (...) A vida não se te dá como uma esmola de senhora caritativa. A vida dá-se-te espontaneamente, sem razão nenhuma para esse dar. Não queiras inventar uma razão para a razão nenhuma disso. Haverá um ordem no infinito, não a penses agora. (...) A tua vida é o acaso sobre que não há que teres perguntas como a ave se não pergunta ao cantar ou a flor a florir num lugar onde ninguém passa. Não perguntes. (...) Sê grato e contente. E cala."
Vergílio Ferreira, Pensar, Lisboa: Bertrand Editora, 1998 , pp. 204-5