sábado, 29 de julho de 2017

Tiefes Schweigen





"Separei os braços
E exilei o peito

Doeu-me tanto
Que não sei chorá-lo"

Daniel Faria, "Braços Abertos", in Poesia, Lisboa: Assírio & Alvim, 2012, p. 401

segunda-feira, 24 de julho de 2017

Gemälde




 "- E eu fiquei um dia muito tempo quieta e foi assim que me apanhaste...
  - Não, o teu retrato eu fiz de cabeça. Estava numa aula chata de Matemática.
  - Não precisaste de me estudar para fazer o desenho?
  - Claro que não. Precisava?"

Pepetela, Se o passado não tivesse asas, D. Quixote: Alfragide, 2016, p. 299

quarta-feira, 19 de julho de 2017

Leid





"O Senhor Palomar sofre muito por causa das suas dificuldades nas relações com o próximo. Inveja as pessoas que têm o dom de encontrar sempre a coisa certa para dizer, o modo certo de se dirigir a cada um; que estão à vontade com quem quer que se encontrem e que põem os outros à vontade; que, movendo-se com ligeireza entre as pessoas, compreendem imediatamente quando se devem defender e tomar as suas distâncias e quando devem ganhar a simpatia e a confiança dos outros; que dão o melhor de si próprias na relação com os outros e que levam os outros a dar o seu melhor; que sabem logo quando podem contar com uma pessoa, em relação a si próprios e em termos absolutos."

Italo Calvino, "O universo como espelho" in Palomar, Alfragide: Teorema, 2002: 121 

Oberflächen





«Só depois de ter conhecido a superfície das coisas - conclui - nos podemos aventurar a procurar o que está por baixo. Mas a superfície das coisas é inesgotável».

Italo Calvino, "Do Terraço" in Palomar, Alfragide: Teorema, 2002: 63

segunda-feira, 3 de julho de 2017

Zwängerei




"Tenho pés para andar e olhos para ver. Posso sentar-me ou posso fechar os olhos e dizer que não há sol nem estradas. Mas eu sei que há estradas e sol e que os olhos veem e os pés andam. Por mais que eu queira, quando sei por dentro que uma coisa está certa, eu tenho de saber que está certa. E ainda que os outros saibam que está errada isso não me ajuda."

Vergílio Ferreira, Adeus in "Contos", Lisboa: Bertrand Editora, 1995 , p. 12

Langeweile





"- Não há nada mais igual do que o mar ou o lume ou uma flor. Ou um pássaro. E a gente não se cansa de os ver ou ouvir. Só é preciso que se esteja disposto para achar diferença nessa igualdade. Posso olhar o mar e não reparar nele, porque já o vi. Mas posso estar horas a olhar e não me cansar da sua monotonia."

Vergílio Ferreira, Uma esplanada sobre o mar in "Contos", Lisboa: Bertrand Editora, 1995 , pp. 245