"Mas sobretudo que má figura faria, vir até cá dentro, até cá baixo, para descobrir que não valia a pena, que por detrás da porta não há nada de novo. (...) De repente senti-me cansada, esgotada (...) Não, impossível, não aguentaria, não aguentava. Senti-me de repente muito cansada.Mas talvez tivesse cerrado os dentes e engolido o meu cansaço e tivesse continuado. As mulheres sabem fazê-lo, quase sempre, mesmo quando já não sabem por quê ou por quem. Também a ideia de (...) ter de me calar, de mudar de conversa quando ele perguntasse, quando quisesse saber (...)
Sim, é verdade, estava cansada, agora já me tinha afeiçoado à Casa e aos seus ritmos. Mas gostaria tanto de sair por um bocado - só um bocadinho, sabíamo-lo ambos - àquela luz de Verão - pelo menos por um Verão (...).
Mas só o destruiria, saindo com ele e respondendo às suas inevitáveis perguntas. Eu, destruí-lo? Antes deixar-me morder por uma serpente cm vezes mais venenosa do que ... antes isso."
Claudio Magris, "E então vai entender", Quetzal: Lisboa, 2009, pp. 66-70 (com supressões)