sexta-feira, 25 de maio de 2012

Und allzeit gute Fahrt!

(Perfil da Luz, de Barnett Newman, 1967)


"Ich war seid fast acht Stunden schon auf der Autobahn,
War ganz kurz vor meinem Ziel und hielt mich mächtig ran
Die Sonne, sie stand schon sehr tief als ich zur Ausfahrt kam.
Der Diesel dröhnte neben mir, mein Funkgerät war an,
Als daraus die Stimme eines kleinen Jungen kam.
Er sagte nur: Kanal 1.4 ist hier irgendwer? Wenn dann ruf
Mich doch zurück und sprich mit Teddybär.
Bis zur Stadt war’s nicht mehr weit, ich kam ganz gut voran.
Ich nahm das Mikro in die Hand und sagte ganz spontan:
Hey ich rufe Teddybär, wo ist der junge Mann? Ich bin auf
Deiner Welle, kannst du mich verstehen?
Es wurde still auf dem Kanal, ich wollt schon weiterdrehen.
Da fragte mich der Junge: Fahrer bist du auch noch dran?
Ich sagte JA, und da fing er mir zu erzählen an:
Jeden Tag von früh bis spät schalt ich den Kasten ein.
Sitz im Rollstuhl, kann nicht gehen und bin hier ganz allein
Und meine Mutter arbeitet, sie sagt, dass muss so sein,
Denn Daddy starb vor einem Jahr auf dieser Autobahn.
Er war ein Fahrer so wie Du, bis er dann nicht mehr kam.
Sie sagt mir oft wir schaffen es und tut als wenn nichts wär.
Doch jede Nacht hör ich sie weinen. Ich weiß sie hat’s sehr schwer
Und während er so redete, da fiel es mir doch auf,
Kein anderer war zu dieser Zeit auf Kanal 14 drauf.
Er sagte: Dieses Funkgerät von Daddy gehört jetzt mir.
Es ist der schönste Zeitvertreib mit einem so wie dir,
Auch Daddy sprach von unterwegs genauso wie jetzt du
Und eines Tages sagte er, mein Junge hör mir zu, einmal,
Da nehm ich dich mit raus, doch leider Wurde nichts mehr raus
Ich hörte die Enttäuschung, die aus diesen Worten Klang.
Ich war längst stehngeblieben, das packte mich doch an,
Denn all das ging mir zu Herzen. Ich pfiff auf Job und Zeit.
Alle konnten warten, nur dieser Junge nicht, tut mir leid.
Ich sagte Teddybär, wo wohnst du, wo liegt deine Station?
Was ich zu tun hatte, dass wusste ich längst schon.
Nur dieser kleine Funker, der ahnte nichts davon.
Er gab mir die Adresse, sagte, lebe wohl und
Irgendwann vielleicht bist du wieder hier, dann wär es schön,
Wenn mich dein Ruf erreicht.
Dann war es Still und ich gab Gas. Mit 80 in die Stadt,
Die letzte Kurve ich war da. Ich glaubte nicht was ich da sah.
Da standen 18 LKWs. Ich war den Tränen nah.
Sie hatten alles mitgehört und fuhrn ihn hin und her.
Ja einer nach dem andren fuhr eine Runde mit Teddybär
18 mal die Straße runter und 18 mal auch rauf,
Ich war ganz als letzter dran und trug ihn auch wieder hinauf
Ich hab noch nie ein Kind gesehen, dass so restlos glücklich war.
Und seine Augen strahlten, es war einfach wunderbar.
Er sagte, Fahrer glaube mir, dass war eine Schau.
Ich fang dich wieder einmal ein, dass weiß ich ganz genau.
Und er hielt meine Hand die ganze Zeit schon.
Ich schluckte und sagte: Ist schon gut mein Sohn.
Dann fuhr ich los und mein Gerät, dass war noch auf Empfang,
Als auf einmal die Stimme einer Frau erklang. Sie sagte,
Und man merkte es, das Sprechen fiel ihr schwer:
Hier ist Kanal 1.4, hier spricht Mutter Teddybär,
Den schönsten Tag in seinem Leben habt ihr meinem Kind gegeben.
Niemals mehr kann ich vergessen, wie ihr zu meinem Jungen ward.
Ich danke euch
Und allzeit gute Fahrt."


"Ruf Teddybär eins-vier", Jonny Hill

domingo, 20 de maio de 2012

Sonntag


("A menina doente", E. Munch)

"E eu caminhei no Hospital
Onde o branco é desolado e sujo
Onde o branco é a cor que fica quando não há cor
E onde a luz é cinza

E eu caminhei nas praias e nos campos
O azul do mar e o roxo da distância
Enrolei-os em redor do meu pescoço
Caminhei na praia quase livre como um deus

Não perguntei por ti à pedra meu Senhor
Nem me lembrei de ti bebendo o vento
O vento era vento e a pedra pedra
E isso inteiramente me bastava

E nos espaços da manhã marinha
Quase livre como um deus eu caminhava

Porém no hospital eu vi o rosto
Que não é pinheiral nem é rochedo
E vi a luz como cinza na parede
E vi a dor absurda e desmedida"


Sophia de Mello Breyner Andresen, Obra Poética II, Caminho: Lisboa, 1995, p. 138

terça-feira, 15 de maio de 2012

Mein Schrei II


"No silêncio do mundo, choro e grito.
Sou a injúria do pó que o vento leva,
Contra a sombra de Deus e do Infinito."

Teixeira de Pascoaes, Belo. À minha alma. Sempre. Terra Prometida..Assírio & Alvim: Lisboa, 1973, p. 131

sábado, 12 de maio de 2012

Mein Schrei I


(Edvard Munch, 1893)

"Assim é a memória. Onde quer que eu me encontre abre um buraco, entra na terra, o que me dificulta a marcha ao mesmo tempo que acentua esta estranheza de eu me senti eu até onde nem mesmo as minhas mãos, ainda que escavassem, lograriam ir. Granito, xstos, cimentos, a nada ela deixa de aceder por causa deles - às vezes acontece essa inquietante coisa de, num prédio, ser como se ela atingisse o andar de baixo ou outro mais abaixo ainda, o ue é de tal forma insidioso que, se alguém que dele chegasse me dissesse nada ter notado, eu ficaria atónito. Mas é na pele que tudo se reflecte com maior intensidade - a memória abre um sulco através dela, espalha-se-lhe à tona com tudo o que da terra atrás de si carrega até se misturar com a saliva, a qual - completamente subterrânea - é o que por fim lhe serve de coroa, aquilo a que chamamos, referindo o mar, rebentação. Vem sempre dar à pele o que a memória carregou, da mesma forma que, depois de revolvidos, os destroços vêm dar à praia."

Luís Miguel Nava, "A Memória", in Poesia Completa, Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2002, p. 97

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Dann...


Quando eu morrer o mundo continuará o mesmo, 
a tranquilidade da noite continuará a envolver as coisas todas
como as envolve agora neste instante.
O vento fresco dobrará as árvores esguias
e  levantará as nuvens de poesia nas estradas...
Apenas eu não estarei cá...
 
Quando eu morrer as águas claras dos rios rolarão ainda, 
alvas de espuma,
as estrelas não cessarão de acender-se
no lindo céu noturno,
e  as frutas continuarão a ser doces e boas.
Apenas eu não estarei cá...

Quando eu morrer a humanidade continuará a mesma.
Porque nada sou, nada conto e nada tenho.
Porque sou um grão de poeira perdido no infinito.

Talvez então te lembres de mim
e me leves flores,
ou, como agora, permaneça esquecida,
mas esse esquecimento já não me magoará
quando eu morrer...

(Leitura do poema de Augusto Frederico Schmidt)

domingo, 6 de maio de 2012

Verzeih mir!



"- Adeus - disse para a flor.
Mas ela não lhe respondeu.
- Adeus - repetiu o principezinho.
A flor tossiu. Mas não era por causa da constipação.
- Eu fui uma tola - acabou finalmente por dizer. - Desculpa. Vê se consegues ser feliz.
Ficou espantado por ela não se pôr com recriminações. E para ali se deixou ficar, totalmente desconcertado, de redoma no ar. Não conseguia compreender aquela mansidão, aquela calma.
- Porque é que estás tão admirado? É evidente que eu te amo - disse-lhe a flor. - Nunca o soubeste por culpa minha. Mas isso, agora, já não tem qualquer importância. Olha que tu também foste tão parvo como eu. Agora vê se consegues ser feliz... E deixa essa redoma em paz. Já não a quero.
- E o vento?
- Não estou tão constipada como isso... O  fresco da noite há-de fazer-me bem. Sou uma flor!
- E os bichos?
-  Duas ou três lagartas terei eu de suportar se quiser saber como são as borboletas. Parece que são tão bonitas! E, se não forem elas, quem se lembra de me vir cá visitar? Tu, tu hás-de estar bem longe. E dos bichos maiores, não tenho nada a recear. Afinal, para que quero eu as minhas garras?
E mais uma vez exibia ingenuamente os seus quatro espinhos. Depois, ainda disse:
- Não fiques para aqui a empatar, que me irritas! Não te resolveste a ir embora? Pois então vai!
Porque ela não queria que ele a visse chorar. Era uma flor tão orgulhosa..."

Antoine de Saint-Exupéry. O Principezinho. Tradução de Joana Morais Varela. Rio de Janeiro: Editora Caravela, 1987.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Du wirst es nie verstehen, trotzend sag ich es dir...




(Foto de David Lyons, in "Land of the Poets - Scotland")

tenho as mãos vazias das palavras
que hoje desejei dizer-te


"Perdi meus fantásticos castelos
Como névoa distante que se esfuma...
Quis vencer, quis lutar, quis defendê-los:
Quebrei as minhas lanças uma a uma!


Perdi minhas galeras entre os gelos
Que se afundaram sobre um mar de bruma...
- Tantos escolhos! Quem podia vê-los? –
Deitei-me ao mar e não salvei nenhuma!


Perdi a minha taça, o meu anel,
A minha cota de aço, o meu corcel,
Perdi meu elmo de ouro e pedrarias...


Sobem-me aos lábios súplicas estranhas...
Sobre o meu coração pesam montanhas...
Olho assombrada as minhas mãos vazias..."



 Florbela Espanca. A mensageira das violetas: antologia. Seleção e edição de Sergio Faraco. Porto Alegre: L&PM, 1999.