"Os amigos não morrem: andam por aí, entram por nós dentro quando menos se espera e então tudo muda: desarrumam o passado, desarrumam o presente, instalam-se com um sorriso num canto nosso e é como se nunca tivessem partido. É como, não: nunca partiram. (...) De modo que eis-nos juntos outra vez, entre silêncios, aberturas indianas do rei e longas conversas em que ele falava muito mais do que eu, acerca de literatura, filosofia, política. (...)
E assim fomos até ao automóvel: de vento em popa. Conforme eu, ao acabar este texto, sabendo que vou tornar a perdê-lo. Mas há-de existir por aí um braço e, tornando-se necessário, dilato-me dois metros. (..)
- De vento em popa
porque sei que ele me há-de amparar."
António Lobo Antunes, "Ernesto Melo Antunes", in http://visao.sapo.pt/opiniao/ , 23/11/2012