"Hoje não aconteceu nada. Dormi. Dormindo sonhei que dormia.
Árvores, bichos, uma profusão de insetos partilhavam os seus
sonhos comigo. Ali estávamos todos, sonhando em coro, como uma
multidão, num quarto minúsculo, trocando ideias e cheiros e carícias
Lembro-me que fui uma aranha avançando contra a presa e a mosca
presa na teia dessa aranha. Senti-me flores desabrochando ao sol,
brisas carregando pólenes. Acordei e estava sozinha. Se, dormindo,
sonhamos dormir, podemos, despertos, acordar dentro de uma
realidade mais lúcida?"
José Eduardo Agualusa, Teoria Geral do Esquecimento, Lisboa: Publicações D. Quixote, 2012, p. 41