sábado, 26 de outubro de 2013

Unvollständige Dialoge




"- (...) Não quero dizer tanto. Mas você é áspero. Com as pequenas do Marechal você não é tão brusco, tenho a certeza. Queria saber se é sòmente comigo ou com todo mundo. (...) É uma pena que a gente não possa dizer tudo. Quanta coisa é intraduzível dentro de nós. Em certas horas, eu queria que você estivesse perto de mim porque então eu saberia dizer melhor as coisas do que agora. Agora elas me parecem confusas. Mas naquelas horas não. Tudo é claro. Parece que a ausência favorece e enriquece a nossa imaginação. Quando estou só penso e converso muito melhor. A solidão nos ajuda realmente. Você terá razão nesse ponto.
- Não sou um solitário.
- Mas gosta de estar só. Ou melhor, aproveita bem o silêncio. Nem todo o mundo sabe aproveitar o silêncio. Há pessoas que só estão bem no tumulto, no ruído, na confusão. Estas não sabem aproveitar os momentos de absoluta mudez das coisas, quando então, as coisas falam melhor do que nunca. Aparentemente eu sou uma mulher ruidosa, reconheço. Mas sei aproveitar os meus momentos de silêncio, no meu quarto."
 
Gastão de Holanda, Os Escorpiões, Lisboa: Livros do Brasil, s. d., p.193-194
 

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