domingo, 27 de março de 2016

Ostern





"Derramai, ó céus, das alturas o vosso orvalho e as nuvens façam chover o Justo. Porque Ele veio e virá sempre à palha e ao cocho para ser compassivo. Mas nós o que estamos fazendo pra ajudar?"

Adélia Prado, "Solte os cachorros, Rio de Janeiro: Record, 2006, p. 79


segunda-feira, 21 de março de 2016

Atmen




"Mas fico junto a ti, nesta hora de frases 
incertas, ouvindo a pergunta que os teus lábios
soltam, numa floração luminosa, sem
esperar resposta, ouvindo apenas o rumor 
de maré no eco das tuas palavras."

Nuno Júdice, "Dupla respiração", in O fruto da gramática, Lisboa: D. Quixote, 2014, p. 32. 

domingo, 20 de março de 2016

Ich vermisse dich! (Für V.)





"A erva cresce
cobre a linha férrea abandonada.

Por que cresce a erva?
Por que são verdes os campos?

Por que é azul o céu?
Por que continua, por que sobrevive o azul?"


 Luís Quintais, "Noite e Nevoeiro", in despois da música, Lisboa: Tinta da China, 2013, p. 27

sábado, 19 de março de 2016

Frieden





"Não recordo esse azul, mas sei
que ele se alia ao azul imaginado
pela acústica impressão:

desprende-se a sua voz, bate
no meu rosto, retoma a mais densa
compreensão, o sonho da matéria

com que haverei de lhe tocar a pele
dizendo o seu nome."


 Luís Quintais, "O Azul de Wallace Stevens", in despois da música, Lisboa: Tinta da China, 2013, p. 20.

domingo, 13 de março de 2016

Blau




"Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém..."


Mário de Sá-Carneiro, Quase, in Poemas Escolhidos, Lisboa: Contexto Editora, 1995, p. 19

Entzücken




"Quando se ama excessivamente o lugar e tudo parece possível como na
fotografia e sentimos alguém enraizar em nós - adoçam-nos
os gestos as chuvas os astros - Percebemos a serenidade

da morte aproximar-se e desejamo-la como estátuas de sal
se amam e crescem com as vagas e desaparecem
ciclicamente no inesperado do mar"

Nuno Félix da Costa, Caminho de Cima em Santa Cruz das Ribeiras in O desfazer das coisas e as coisas já desfeitas, Lajes do Pico: Companhia das Ilhas, 2015, p. 153

Wanderung (Immer noch für V.)






"Não há modo de ir além - ninguém se preparou para a claridade
que nos perpassa - milénios de utopias num mosteiro sem montanha
em derrocada fundem-se - Ébrios de arranha céus e hipóteses
no éter do acontecer somos místicos do não-acontecimento - as mães
inocularam-nos as células do entorpecimento - sujeitos do trivial"


                                             Nuno Félix da Costa, memória de cinzas,  in O desfazer das coisas e as coisas já desfeitas, Lajes do Pico: Companhia das Ilhas, 2015, p. 30


Am Ende scheint alles zu kurz! (Für V.)




"O efeito do tempo é separar por isso se diz que o tempo cura
Ninguém percebe que o mecanismo do tempo apenas que se insinua e separa
que se infiltra num espaço ocupado e separa - Desde o início separa
o nada que existia antes em partes incompatíveis - umas expandem
outras matam-se - Estas pertencem à impureza e à desordem - Porque 
o universo e até os seus mistérios se submetem às leis irreconciliáveis
que atraem e repelem os astros mas o amor atrai grandes massas de factos
congrega-os num quase nada que frutifica como se tudo fosse recomeçar
Vê-se o tempo tudo deixar passar - o que surte do mar e como as nuvens
resistem a ser - caminha sem retorno e junta-se a algo e o que sobra
do calor das rochas dos fundos hialinos e dos pântanos são átomos
que instáveis cooperam até conseguirem nomear o que fazem
Multiplicam-se até o tempo limitar os dias de festa - No final tudo
pareceu breve mas não interessa o que parece - nem o que foi"

Nuno Félix da Costa, a cura ou Goethe quântico in O desfazer das coisas e as coisas já desfeitas, Lajes do Pico: Companhia das Ilhas, 2015, p. 16

domingo, 6 de março de 2016

Dankbar




«Por favor, não diga nada... não gostaria que respondesse ou dissesse... estou-lhe grata por me ter escutado.»


                            Stefan Zweig, Vinte e quatro horas na vida de uma mulher, Lisboa: A esfera dos livros, 2008, p. 98

Siebte Stufe




"Contaba alguien que, en la playa, 
- prescripción facultativa.
por fortalecer sus piernas,
caminaba cierto día."


Ignacio Dominguez, "Um mar de misericordia" in El Año de la Misericordia en Sabarís, Sabarís, 2015-16, p. 39

sexta-feira, 4 de março de 2016

Vorabend 7





"Se me perguntas onde fui,
devo dizer: o mar."

Carlos Nejar, Árvore do mundo (http://www.citador.pt/)