"O efeito do tempo é separar por isso se diz que o tempo cura
Ninguém percebe que o mecanismo do tempo apenas que se insinua e separa
que se infiltra num espaço ocupado e separa - Desde o início separa
o nada que existia antes em partes incompatíveis - umas expandem
outras matam-se - Estas pertencem à impureza e à desordem - Porque
o universo e até os seus mistérios se submetem às leis irreconciliáveis
que atraem e repelem os astros mas o amor atrai grandes massas de factos
congrega-os num quase nada que frutifica como se tudo fosse recomeçar
Vê-se o tempo tudo deixar passar - o que surte do mar e como as nuvens
resistem a ser - caminha sem retorno e junta-se a algo e o que sobra
do calor das rochas dos fundos hialinos e dos pântanos são átomos
que instáveis cooperam até conseguirem nomear o que fazem
Multiplicam-se até o tempo limitar os dias de festa - No final tudo
pareceu breve mas não interessa o que parece - nem o que foi"
Nuno Félix da Costa, a cura ou Goethe quântico in O desfazer das coisas e as coisas já desfeitas, Lajes do Pico: Companhia das Ilhas, 2015, p. 16
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