"1
Quem chegar primeiro
Sobe as persianas. Rega as plantas. Abre
De para em par as janelas.
Eu sou a que vai chegar acartando
Os feixes de lenha na cabeça.
2
Deixei ficar comida para aqueceres
Com a boca, com a fome.
Pede licença para saíres da mesa. Já te ensinei
Que múltiplos são os anjos que nos guardam –
Deves partilhar o teu pão.
3
Se vier a peixeira comprai verdinhos
Comprai-lhe a verdura dos anos
O modo como equilibra a canastra
E a contínua rebentação
Ajeitai-lhe a rodilha
Observai pelas guelras se são frescos os pregões
Não percais o troco como os ecos da distância
4
Chama os teus irmãos para a missa
Das onze. Este domingo são eles a tocar.
Chama-os com as trombetas do Juízo
Com as palmas com que enxoto as galinhas
Com a voz do que clama no deserto:
(Prepara-lhes o leite)
- Preparai os caminhos do Senhor
5
Lembra à tua irmã que os medicamentos do pai
Estão na gaveta do meio
Ele está todo o dia no meu pensamento
É aí que vireis ao meio-dia chamá-lo
Para comer
6
Quando vier a vossa avó buscar o crivo
Não deixeis que o seu puxo se desfaça
Com os ventos"
Quem chegar primeiro
Sobe as persianas. Rega as plantas. Abre
De para em par as janelas.
Eu sou a que vai chegar acartando
Os feixes de lenha na cabeça.
2
Deixei ficar comida para aqueceres
Com a boca, com a fome.
Pede licença para saíres da mesa. Já te ensinei
Que múltiplos são os anjos que nos guardam –
Deves partilhar o teu pão.
3
Se vier a peixeira comprai verdinhos
Comprai-lhe a verdura dos anos
O modo como equilibra a canastra
E a contínua rebentação
Ajeitai-lhe a rodilha
Observai pelas guelras se são frescos os pregões
Não percais o troco como os ecos da distância
4
Chama os teus irmãos para a missa
Das onze. Este domingo são eles a tocar.
Chama-os com as trombetas do Juízo
Com as palmas com que enxoto as galinhas
Com a voz do que clama no deserto:
(Prepara-lhes o leite)
- Preparai os caminhos do Senhor
5
Lembra à tua irmã que os medicamentos do pai
Estão na gaveta do meio
Ele está todo o dia no meu pensamento
É aí que vireis ao meio-dia chamá-lo
Para comer
6
Quando vier a vossa avó buscar o crivo
Não deixeis que o seu puxo se desfaça
Com os ventos"
Daniel Faria, Poesia, Lisboa: Assírio & Alvim, 2012, p. 318-9