"A amizade começa como um acto sem continuidade, um salto. É um momento em que sentimos uma fortesimpatia, um interesse, sentimos uma afinidade em relação a uma pessoa. Se já a conhecíamos há algum tempo, é como se a víssemos de uma maneira diferente, pela primeira vez. Chamaremos «encontro» a essa experiência. O encontro é sempre inesperado, revelador. Com a grande maioria dos nossos conhecimentos nunca daremos este primeiro passo na estrada da amizade. Poderemos estar juntos toda a vida, porém nunca se verifica aquele contacto, aquela centelha por causa da qual somos atraídos por ele e desejamos enconrar-nos de novo, para continuarmos qualquer coisa que começámos. A amizade constitui-se através de uma sucessão de estes «encontros», cada um dos quais continua o precedente. (...) Podemos retomar a conversa interrompida. O que surpreende no encontro é que a conversa já não se detém sobre o que dissemos anteriormente. Cada «encontro» é diferente, abre uma nova estrada, abre-nos novas perspectivas. Se uma amizade é verdadeira, isto repetir-se-á inúmeras vezes.
«A amizade é uma filigrana de encontros.»Ninguém sabe antecipadamente se haverá ou não um encontro. O encontro é sempre imprevisível, inesperado. Como a felicidade, que já não está onde a esperamos como caçadores em guarda. Se procuramos ansiosamente a felicidade, se a queremos, encontramos mais frequentemente a desilusão. Ou o aborrecimento. A felicidade aparece de improviso, quando não pensamos realmente nela, como se nos seguisse e esperasse, para se revelar, que estivéssemos distraídos. O encontro é em si mesmo um momento de felicidade, de grande intensidade vital. É um momento em que compreendemos algo de nós próprios e do mundo. No encontro sentimos que a outra pessoa nos ajuda a caminhar na direcção correcta."
Francesco Alberoni, "A Amizade", Venda Nova: Bertrand Editora, 1996, pp. 17-18