"A amizade não é uma dádiva, é uma espécie de tesouro escondido onde só se alcança depois de ter vencido longamente caminhos e tempestades, e passado portas, e enfrentado monstros e dragões, e voltado muitas vezes atrás e recomeçado de novo a partir da solidão e do exílio. Por isso, a perda de um amigo é, de facto (não apenas metaforicamente ou apenas simbolicamente), a perda de uma parte de nós. Porque somos feitos da confusa e inconstante matéria da memória, da nossa própria memória e da memória dos outros (a nossa memória dos outros e a memória dos outros de nós) e cada um de nós pode também dizer de si: «Eu era um tesouro escondido, e precisei de ser revelado...»"
Manuel António Pina, "Um adeus como todos imenso", in Crónica, saudade da literatura, Lisboa: Assírio & Alvim, 2013, p. 266
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