quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Traurig



   "Nem sempre sou igual no que digo e escrevo. 
     Mudo, mas não mudo muito.
     A cor das flores não é a mesma ao sol
     De que quando uma nuvem passa
     Ou quando entra a noite
     E as flores são cor da sombra.

     Mas quem olha bem vê que são as mesmas flores.
     Por isso quando pareço não concordar comigo,
     Reparem bem para mim:
     Se estava virado para a direita,
     Voltei-me agora para a esquerda,
     Mas sou sempre eu, assente sobre os mesmos pés —
     O mesmo sempre, graças ao céu e à terra
     E aos meus olhos e ouvidos atentos
     E à minha clara simplicidade de alma ..."

Obra Poética de Fernando Pessoa, Poemas de Alberto Caeiro, Lisboa: Publicações Europa-América, 1986, pp. 117-8

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