domingo, 31 de dezembro de 2017

Die verpasste Strasse






"Two roads diverged in a yellow wood,
And sorry I could not travel both
And be one traveler, long I stood
And looked down one as far as I could
To where it bent in the undergrowth;

Then took the other, as just as fair,
And having perhaps the better claim,
Because it was grassy and wanted wear;
Though as for that the passing there
Hadworn them really about the same,

And both that morning equally lay
In leaves no step had trodden black.
Oh, I kept the first for another day!
Yet knowing way leads on to way,
I doubted if I should ever come back.

I shall be telling this with a sigh
Somewere ages and ages hence:
Two roads diverged in a wood, and I -
I took the one less traveled by,
And that has made all the difference."

Robert Frost, Mountain Interval

quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Trauerprozess






"A bright sunrise will contradict 
the heavy fault that weighs you down.

In spite of all the funeral songs,
the birds will make their joyful sounds.

You wonder why the earth still moves.
You wonder how you'll carry on.

But you'll be okay on that first day when I'm gone

Dusk will come with fireflies and whippoorwill and crickets call.

And every star will take its place 
In silvery gown and purple shawl

You'll lie down in our big bed, 
Dread the dark and dread the dawn
But you'll be alright on that first night when I'm gone

You will reach for me in vain
You'll be whispering my name

As if sorrow were your friend
And this world so alien

But life will call with daffodils 
And morning glorious blue skies.

You'll think of me - some memory 
and softly smile to your surprise.

And even though you love me still you will know where you belong

Just give it time we'll both be fine when I'm gone"


Sandra Emory Lawrence, Compositora de "When I'm gone"


segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

In Memoriam (Onkel D.)





"Na véspera de não partir nunca
Ao menos não há que arrumar malas 
Nem que fazer planos em papel, 
Com acompanhamento involuntário de esquecimentos, 
Para o partir ainda livre do dia seguinte. 
Não há que fazer nada 
Na véspera de não partir nunca. 
Grande sossego de já não haver sequer de que ter sossego! 
Grande tranqüilidade a que nem sabe encolher ombros 
Por isto tudo, ter pensado o tudo 
É o ter chegado deliberadamente a nada. 
Grande alegria de não ter precisão de ser alegre, 
Como uma oportunidade virada do avesso. 
Há quantas vezes vivo 
A vida vegetativa do pensamento! 
Todos os dias sine linea 
Sossego, sim, sossego... 
Grande tranqüilidade... 
Que repouso, depois de tantas viagens, físicas e psíquicas! 
Que prazer olhar para as malas fítando como para nada! 
Dormita, alma, dormita! 
Aproveita, dormita! 
Dormita! 
É pouco o tempo que tens! Dormita! 
É a véspera de não partir nunca!"


Obra Poética de Fernando Pessoa, Poemas de Álvaro de Campos, Lisboa: Publicações Europa-América, s. d., p. 117-8

Zerstörte Hoffnung







"Escrevo para quem fui. Talvez aquela que deixei um dia persista
ainda, em pé e parada e fúnebre, num desvão do tempo
- numa curva, numa encruzilhada - e de alguma forma misteriosa
consiga ler as linhas que aqui vou traçando, sem as ver."

José Eduardo Agualusa, Teoria Geral do Esquecimento, Lisboa: Publicações D. Quixote, 2012, p. 231

Weihnachtstage







                                                       "lavro versos
                         curtos
                         como orações
                         
                         palavras são legiões
                         de demónios
                         expulsos

                         corto advérbios
                         pronomes

                         poupo os pulsos."


José Eduardo Agualusa, Teoria Geral do Esquecimento, Lisboa: Publicações D. Quixote, 2012, p. 123

domingo, 24 de dezembro de 2017

Frohe Weihnachten!





"Não há pinheiro nem há neve,
Nada do que é convencional,
Nada daquilo que se escreve
Ou que se diz... Mas é Natal!"


                      Cabral do Nascimento, Natal africano, in "de natal em busca", Ed. Pássaro de Fogo, 2006, p. 46

sábado, 23 de dezembro de 2017

Glückliche Tage





" - Mas o que é que significa efémero? - repetiu o principezinho, que nunca desistia de uma pergunta depois de a ter feito.
  - Significa 'estar sujeito a desaparecer em breve'."

Antoine de Saint-Exupéry, O Principezinho, Porto: Porto Editora, 2015, p. 66 

domingo, 3 de dezembro de 2017

Durchlässigkeit







"O mundo, lavado pelo pelo sol, não sofria de enigmas. Tudo lhe parecia transparente e lúcido, inclusive Deus, o Qual, assumindo formas diversas, tantas vezes lhe surgia ao entardecer para dois dedos de agradável conversa."


José Eduardo Agualusa, Teoria Geral do Esquecimento, Lisboa: Publicações D. Quixote, 2012, p. 139

Traumhaft







"Os dias deslizam como se fossem líquidos. Não tenho mais 
cadernos onde escrever. Também não tenho mais canetas. 
Escrevo nas paredes, com pedaços de carvão, versos sucintos."

José Eduardo Agualusa, Teoria Geral do Esquecimento, Lisboa: Publicações D. Quixote, 2012, p. 81

sábado, 25 de novembro de 2017

Nichts





"Nada.

Nem o branco fogo do trigo
nem as agulhas cravadas na pupila dos pássaros
te dirão a palavra.

Não interrogues não perguntes
entre a razão e a turbulência da neve
não há diferença.

Não coleciones dejetos o teu destino és tu.

Despede-te
não há outro caminho."


Eugénio de Andrade, Véspera da água, Porto: Fundação Eugénio de Andrade, 1990, p. 12

domingo, 12 de novembro de 2017

Erinnerungsstücke







"É mais do que certo e sabido que a morte, quer por incompetência de origem quer por má-fé adquirida na experiência, não escolhe as suas vítimas consoante a duração das vidas que viveram, procedimento este, aliás, entre parêntesis se diga, que, a dar crédito apalavra de inúmeras autoridades filosóficas e religiosas que sobre o tema se pronunciaram, acabou por produzir no ser humano, reflexamente, por diferentes e às vezes contraditórios caminhos, o efeito paradoxal duma sublimação intelectual do temor natural de morrer."


  José Saramago, Todos os Nomes, Lisboa: Editorial Caminho, 2006, p. 16




quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Liebe Taufpatin!







"Hoje roubei todas as rosas dos jardins
E cheguei ao pé de ti de mãos vazias"

Eugénio de Andrade, Primeiros Poemas, As Mãos e os Frutos, Os Amantes Sem Dinheiro, Porto: Fundação Eugénio de Andrade, 2000

domingo, 5 de novembro de 2017

Verzicht






"Todos podemos, ao longo da vida, conhecer várias existências. Eventualmente, desistências. Aliás, o mais habitual."


José Eduardo Agualusa, Teoria Geral do Esquecimento, Lisboa: Publicações D. Quixote, 2012, p. 55


Dieser Sommer





"Dieser Sommer lehrt mich 
ein Wasserspiegel zu sein für jeden Stein"

Ulla Hahn, "Dieser Sommer" in Frauen dichten anders, Insel Verlag: Berlin, 2013:202

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Bis wir nicht mehr Fremde sind




Allerheiligen





"Sonhar é ausência, é estar do lado de lá, Mas a vida tem dois lados, Pessoa, pelo menos dois, ao outro só pelo sonho conseguimos chegar (...)"

                                                                                                                                           José Saramago, O Ano da Morte de Ricardo Reis, Porto Editora: Porto, 2016, p. 104

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Einschränkungen





   "Não se pode ter muitos amigos. Mesmo que se queira, mesmo que se conheçam pessoas de quem apetece ser amiga, não se pode ter muitos amigos. Ou melhor: nunca se pode ser bom amigo de muitas pessoas. Ou melhor: amigo. A preocupação da alma e a ocupação do espaço, o tempo que se pode passar e a atenção que se pode dar todas estas coisas são finitas e têm de ser partilhadas. Não chegam para mais de um, dois, três, quatro, cinco amigos. É preciso saber partilhar o que temos com eles e não se pode dividir uma coisa já de si pequena (nós) por muitas pessoas.
  Os amigos, como acontece com os amantes, também têm de ser escolhidos. Pode custar-nos não ter tempo nem vida para se ser amigo de alguém de quem se gosta, mas esse é um dos custos da amizade. O que é bom sai caro. A tendência automática é para ter um máximo de amigos ou mesmo ser amigo de toda a gente. Trata-se de uma espécie de promiscuidade, para não dizer a pior. Não se pode ser amigo de todas as pessoas de que se gosta. Às vezes, para se ser amigo de alguém, chega a ser preciso ser-se inimigo de quem se gosta."

Miguel Esteves Cardoso, «O que distingue os meus amigos verdadeiros», in Os Meus Problemas, Porto, Porto Editora, 2016

domingo, 29 de outubro de 2017

In Schweigen







"Há rosas cor de sangue que parece terem-se ferido com os seus próprios espinhos."


Ramón Gómez de la Serna, "Greguerías", Assírio & Alvim: Lisboa, 1998, p. 80

Wasserspeicher





"A água não tem memória: por isso é tão limpa."

Ramón Gómez de la Serna, "Greguerías", Assírio & Alvim: Lisboa, 1998, p. 28

domingo, 22 de outubro de 2017

Abgrund







"Impossível afastarmo-nos dele, arrancarmo-nos ao espetáculo dele, fascina-nos como a profundeza vista do alto de uma torre."

Miklós Szentkuthy,  Escorial, Lisboa: Editorial Teorema, 1991, pp. 256-7

sábado, 21 de outubro de 2017

Göttlichkeit






"Uma árvore é uma árvore: eis a origem e o espaço vital dos deuses. Porquê árvore? Que quer a árvore? Que quer ela fazer connosco e consigo própria? Terá sequer vontade? Quem a criou? É sentido ou sem-sentido?"

Miklós Szentkuthy,  Escorial, Lisboa: Editorial Teorema, 1991, pp. 78-9

Kaleidoskop





"Sabes porque destaco todos estes matizes? É porque vivo num mundo de sonhos (...)."

Miklós Szentkuthy,  Escorial, Lisboa: Editorial Teorema, 1991, p. 77


Blumenhaft





"Tem pétalas violáceas, cores do paradoxo, dos crepúsculos e dos indícios da Primavera, dos lilases ainda húmidos de puberdade, do luto mundano, das violetas que se tornam esfinge por efeito da meia-noite, da última fatia misteriosa do espectro polícromo, portanto, de toda a espécie de aristocratismos e de ambivalências fervilhantes. E qual é o sentido, o suposto conteúdo da vida, senão a manifestação do aristocratismo e do mistério?"

Miklós Szentkuthy,  Escorial, Lisboa: Editorial Teorema, 1991, p. 77


sábado, 7 de outubro de 2017

Dieses Licht







"Até a luz me é estranha.

Um excesso de luz.

Certas cores que não deveriam ocorrer num céu saudável."


José Eduardo Agualusa, Teoria Geral do Esquecimento, Lisboa: Publicações D. Quixote, 2012, p. 37

sábado, 30 de setembro de 2017

Ich...









"eu ostra cismo

cá com minhas pérolas

.

.

.

cacos no abismo"



José Eduardo Agualusa, Teoria Geral do Esquecimento, Lisboa: Publicações D. Quixote, 2012, p. 85

So gefragt...








"Hoje não aconteceu nada. Dormi. Dormindo sonhei que dormia.
Árvores, bichos, uma profusão de insetos partilhavam os seus
sonhos comigo. Ali estávamos todos, sonhando em coro, como uma
multidão, num quarto minúsculo, trocando ideias e cheiros e carícias
Lembro-me que fui uma aranha avançando contra a presa e a mosca
presa na teia dessa aranha. Senti-me flores desabrochando ao sol,
brisas carregando pólenes. Acordei e estava sozinha. Se, dormindo,
sonhamos dormir, podemos, despertos, acordar dentro de uma
realidade mais lúcida?"


José Eduardo Agualusa, Teoria Geral do Esquecimento, Lisboa: Publicações D. Quixote, 2012, p. 41

terça-feira, 26 de setembro de 2017

Seltsamkeit







"Estranho fruto é a morte
suportando-se, frágil,

por linha vegetal imperfeita,
na pesada árvore

que não vemos,
que não veremos,

que não queremos ver,
nunca, nunca."


                                                                                 Luís Quintais, "Here is a strange and bitter crop", in depois da músicaLisboa: Tinta da China, 2013,  p. 48

Erschaffung






"Fazer justiça
 à vertigem
 do mundo."

Luís Quintais, "Poesia", in depois da músicaLisboa: Tinta da China, 2013,  p. 68

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Geburtstagswünsche





"É apenas mais um dia na terra, dizes, e apresso-me de encontro à menoridade de todos os começos: lírica, escura, pressurosa métrica tomada de assalto pela luz de Inverno sobre o vidro da mesa."


 Luís Quintais, "Mesa", in despois da música, Lisboa: Tinta da China, 2013, p. 7



sábado, 9 de setembro de 2017

Zauberwort





"Que pena eu nunca ter tido a coragem de lhe dirigir essa palavra mágica."

Fredrico Lourenço, Amar não acaba, Lisboa: Edições Cotovia, 2004, p.  37

Gedämpft






"Gonçalo

    Pelo que há de mais sagrado, senhor,
    Porque ficastes assim a olhar tão fixamente?"

William Shakespeare, "A Tempestade, seguido de O Mar e o Espelho de W. H. Auden", Cotovia: Lisboa, 2009, p.  103

sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Lektion 3







"(...) atravesso o passado como alguém que apanha espigas nos campos de restolho quando o dono do campo já fez a colheita."

                                                                                                            Friedrich Hölderin, Hipérion ou o Eremita da Grécia, Lisboa: Assírio & Alvim, 1997:30

Lektion 2







"Nada viveria se não houvesse esperança. O meu coração guardou agora os seus tesouros, mas apenas para os poupar para tempos melhores, para o ser único, santo fiel, que com toda a certeza, em qualquer período da existência, haveria de vir ao encontro da minha alma sequiosa."

                                                                                                                     Friedrich Hölderin, Hipérion ou o Eremita da Grécia, Lisboa: Assírio & Alvim, 1997:40

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Lektion 1





"Aprende também a ter um pouco de paciência!"

Friedrich Hölderin, Hipérion ou o Eremita da Grécia, Lisboa: Assírio & Alvim, 1997:36

terça-feira, 5 de setembro de 2017

Ein neuer Anfang






"Contudo, a fada desvanece-se quando nos aproximamos da pessoa real a quem corresponde o seu nome, pois o nome começa então a refletir essa pessoa, e ela não contém nenhuma coisa da fada; a fada pode renascer se nos afastarmos da pessoa; mas, se ficarmos junto dela, a fada morre definitivamente, e com ela o nome (...)"

Marcel Proust, Em busca do Tempo Perdido - O Lado de Guermantes I, Mem Martins: Edições Europa América, s.d., p. 12

domingo, 27 de agosto de 2017

Abfahren






"Também no interior do corpo a treva é profunda, e contudo o sangue chega ao coração, o cérebro é cego e pode ver, é surdo e ouve, não tem mãos e alcança, o homem, está claro, é o labirinto de si mesmo."

José Saramago, O Ano da Morte de Ricardo Reis, Porto Editora: Porto, 2016,  p. 107

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Glückliche Unwissenheit



Mystifizierung









"Viu então com alegria que estava diante de uma mistificação. O Marcos enchera as calças e o casaco de palha, metera o corpo fingido debaixo da manta, no sítio da cabeça colocara o cabaneiro, e deixara-lhe ali o fantasma do corpo."

Miguel Torga, "Marcos", in Novos Contos da Montanha, Coimbra: Edição do Autor, s.d., p. 210.

Unbegrenzt







"As coisas só na aparência têm limites
e cada uma é uma rede inextricável
e silenciosamente vertiginosa"

António Ramos Rosa, As Palavras, Porto: Campo das Letras, 2001, p. 75

Loslassen






"Não queiras mais que a gratuita lucidez
do instante sem caminho"

António Ramos Rosa, As Palavras, Porto: Campo das Letras, 2001, p. 32

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Sag nicht...




"Não digamos, Amanhã farei, porque o mais certo é estarmos cansados amanhã, digamos antes, Depois de amanhã, sempre teremos um dia de intervalo para mudar de opinião e projeto, porém ainda mais prudente seria dizer, Um dia decidirei quando será o dia de dizer depois de manhã, e talvez nem seja preciso, se a morte definidora vier antes desobrigar-me do compromisso, que essa, sim, é a pior coisa do mundo, o compromisso, liberdade que a nós próprios negámos."

José Saramago, O Ano da Morte de Ricardo Reis, Porto Editora: Porto, 2016,  p. 65

domingo, 13 de agosto de 2017

Weg






"Haverá ainda música para nós,
e a música será o lugar do justo e do bom,
o início improvável que aqui nos trouxe."


 Luís Quintais, "Coimbra, Século deposto", in despois da música, Lisboa: Tinta da China, 2013, p. 61

Was suchten wir denn?





"O que procurávamos?
A nunca visitada Veneza,
um milagre ou uma decisão."

 Luís Quintais, "Romances", in despois da música, Lisboa: Tinta da China, 2013, p. 77

sábado, 12 de agosto de 2017

Geträumt





"I found in dreams a place of wind and flowers,
Full of sweet trees and colour of glad grass"


                                                                                                                                                                                             A. C. Swinburne, Poemas, Relógio D' Água, 2005, p. 56